Milícias dominam 171 comunidades no Rio

Relatório confidencial da Subsecretaria de Inteligência (SSI) da Secretaria de Segurança do Rio informa que as milícias – quadrilhas chefiadas por policiais, que dominam comunidades pobres e recentemente têm atuado na campanha eleitoral, intimidando eleitores e candidatos – já estão em 171 localidades de dez cidades fluminenses, principalmente na capital.

O documento, enviado à CPI das Milícias da Assembléia e obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo, identifica 521 pessoas supostamente envolvidas nesses grupos, entre elas o deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM) e seu irmão, o vereador Jerônimo Guimarães Filho (PMDB), o Jerominho – ambos presos. O vereador Josinaldo da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras (DEM), que esteve preso em 2007, também integra a lista. Outros três vereadores (dois de Duque de Caxias) são apontados como milicianos.

O levantamento foi feito com base em boletins de ocorrência envolvendo milicianos, em informações repassadas ao Disque-Denúncia, no noticiário da imprensa e em trabalho de inteligência policial. O relatório aponta, como integrantes das milícias, 156 policiais militares (entre os quais sete oficiais: dois majores e cinco capitães); 18 policiais civis, incluindo um delegado da Baixada Fluminense; 11 integrantes do Corpo de Bombeiros; três agentes penitenciários e três membros das Forças Armadas. Os demais são todos civis, entre os quais alguns ex-policiais.

Como parte da relação se baseou em informações repassadas pelo Disque-Denúncia, que são anônimas, o Estado optou por citar apenas os políticos que foram presos sob acusação de envolvimento com esses grupos.

Presença

As milícias, segundo a SSI, já estariam presentes em nove municípios do Estado, além da capital: cinco deles na Baixada Fluminense – Magé, Duque de Caxias, São João de Meriti, Belfort Roxo e Mesquita; dois na região metropolitana da capital – Niterói e São Gonçalo, e outros dois na Região dos Lagos – Cabo Frio e Macaé. Na Baixada Fluminense, os grupos paramilitares se espalham por 33 comunidades. Nos demais municípios, estão em 13 locais.

A presença das quadrilhas é mais forte na capital (125 comunidades), onde as milícias se distribuem em duas regiões. Na zona oeste, estão em 94 bairros ou localidades (68,12%). É nessa região que ficam a favela de Rio das Pedras – um dos primeiros locais de surgimento do fenômeno, entre os anos 70 e 80 – e as comunidades onde atua a chamada Liga da Justiça, grupo supostamente chefiado por Natalino e Jerominho. Em Jacarepaguá, onde fica Rio das Pedras, foram identificadas 37 comunidades (21 64%) dominadas por milicianos. Na região da Liga da Justiça, o número de comunidades chega a 41 (23,97%): 25 no bairro de Santa Cruz e 16 em Campo Grande.

Na zona norte da capital a milícia instalou-se em 31 locais (22 46%), apresentando-se de forma mais consistente na região de Rocha Miranda, com 13 comunidades ocupadas na área onde fica o 9º Batalhão da Polícia Militar.

Facções

De acordo com os analistas da SSI, as milícias invadem as comunidades – a maioria antes dominadas por traficantes, que são expulsos – e passam a cobrar pela “segurança” que impõem. Segundo o levantamento, no entanto, 119 comunidades, das 171 onde as milícias atuam – ou seja, 69,6% – , antes das invasões milicianas “não pertenciam a nenhuma facção criminosa”.

O relatório também afirma que 29 das comunidades (16,9% do total) atualmente sob controle miliciano eram antes dominadas pela facção criminosa Comando Vermelho (CV), 14 (8,18%) tinham traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) e nove (5,26%) eram controladas pelo bando Amigos dos Amigos (ADA).

Em um ano e meio de investigações as polícias do Rio registraram 32 ocorrências envolvendo 102 pessoas ligadas às milícias. Destas, 26 eram policiais militares, seis policiais civis, um agente de segurança penitenciária e um integrante das Forças Armadas. Os demais são civis. Nem todos ficaram presos e respondem a processos em liberdade.

Os presos por envolvimento com milícias acabam indiciados pelos crimes de formação de quadrilha, porte ilegal de armas de fogo, ameaças, extorsões, crimes contra o parcelamento do solo urbano (há grupos atuando na grilagem de terras), homicídios, comércio ilegal de gás e também crime contra a economia popular, quando os milicianos estabelecem preços e monopólios nas vendas de gás ou água.

Há grupos que também se envolveram com contrabando, ao explorar máquinas caça-níqueis, e com lavagem de dinheiro, o que acontece com alguns dos que exploram o transporte alternativo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.