Meirelles usou doleiros suspeitos de lavagem

Brasília – Novas denúncias contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, surgidas ontem, complicam ainda mais a sua situação. Meirelles entrou em apuros por não declarar à Receita Federal rendimentos auferidos no exterior. Agora, a revista Veja, na edição on-line, informou ontem que a CPI do Banestado investiga transações de Meirelles com doleiros suspeitos de lavagem de dinheiro.

As operações foram realizadas em 2002, quando Meirelles estava recém-eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás. Segundo a Veja On-Line, Henrique Meirelles prometeu esclarecer a denúncia. De acordo com a reportagem da revista, no dia 18 de outubro de 2002, Meirelles, remeteu, a partir de conta pessoal no Goldmans Sachs nos Estados Unidos, pouco mais de US$ 50 mil para uma conta da off-shore Biscay Trading Ltd também nos EUA. Segundo um relatório de cerca de 50 páginas em poder da CPI, a Biscay Trading Ltd. é de um grupo de doleiros de São Paulo suspeito de lavagem de dinheiro.

A quantia remetida – exatos US$ 50.677,12 saiu de uma conta em nome de Henrique de Campos Meirelles, de número 4029218701, nos EUA. O documento registra a conta bancária de Meirelles no Goldman Sachs cujo nome aparece associado a uma instituição identificada como Mellon Pit. Dessa conta, os US$ 50.677,12 foram para a conta 030102375, da off-shore Biscay Trading Ltd. Conforme um relatório de cerca de 50 páginas em poder da CPI, a Biscay Trading é de um grupo de doleiros de São Paulo que está sob investigação por suspeita de lavagem de dinheiro.

A conta dos doleiros, inicialmente, fora aberta no MTB Bank, em Nova York, que está sob investigação das autoridades americanas sob a suspeita de ter se transformado numa central de lavagem de dinheiro. No fim de semana, a edição impressa da revista saiu com reportagem em que denunciava operação de venda de bens de Meirelles. Na semana anterior a IstoÉ publicara denúncia de irregularidades na declaração de renda de Meirelles.

Ontem o presidente do Banco Central se reuniu com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, e os representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), José Mário Abdu, e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Rubens Donati. Jobim convidou Meirelles para pedir a colaboração do BC para intervir junto aos bancos e tentar reduzir o número de processos judiciais que “atolam” o sistema judiciário. Ao final, Meirelles usou a saída dos fundos para não ter que se encontrar com a imprensa.

“Novas denúncias impressionam”

Brasília – O presidente da CPI do Banestado, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), informou ontem que pretende confirmar as informações publicadas pela Veja Online para depois pedir explicações ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Antero garantiu que não sabia da existência desta operação. O senador, no entanto, admite que a reportagem tem “uma riqueza de detalhes que impressionam”.

O senador afirmou que não teve acesso a 32 caixas do MTB Bank porque, segundo ele, ainda não foram autuadas. Ele diz que vai analisar os disquetes já autuados para analisar as informações e tentar encontrar a operação envolvendo Meirelles. Antero afirma acreditar que a informação sobre Meirelles não tenha vazado de dentro da CPI. “É evidente que essa reportagem não partiu da CPI”, diz ele, justificando que a comissão não solicita Imposto de Renda.

A reportagem da Veja On-line diz que Meirelles não declarou a operação à Receita. O presidente da CPI diz também que a situação de Meirel-les é “grave”, mas pediu cautela. “Primeiro quero conferir os dados, para saber se são verídicos”. Em seu discurso no plenário na tarde de ontem, Paes de Barros chamou de fascista o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que o teria chamado de traiçoeiro por divulgar as denúncias envolvendo o ex-assessor da Presidência da República Waldomiro Diniz. Antero disse que apenas cumpriu seu dever ético de enviar as fitas de vídeo que comprometiam Waldomiro às autoridades competentes e acusou o ministro de mandar investigá-lo com fins políticos. “O Estado brasileiro não é do José Dirceu”, afirmou Antero, após negar que tenha divulgado informações sobre o Imposto de Renda do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Mas a polêmica não acaba aí: o líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), reagiu à nova denúncia contra o presidente do BC, acusando o PSDB de querer desestabilizar o País. Segundo Luizinho, o PSDB tem o controle da CPI do Banestado e divulga parte de informações para construir uma versão desfavorável a Meirelles. “Estão brincando com o perigo. Querem criar confusão para melar o crescimento econômico que o País vive”.

Nos EUA é comum, diz Meirelles

Brasília – O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, negou ontem mais uma vez que tenha cometido irregularidade fiscal e informou desconhecer a empresa dos doleiros investigados pela CPI do Banestado, para a qual teria enviado cerca de US$ 50 mil. Em nota divulgada no final do dia, Meirelles afirma que esse tipo de movimentação é “comum” nos EUA e que o caso citado foi apenas um dos vários depósitos realizados pelo presidente do BC no exterior. O presidente do BC passou o dia em São Paulo para cumprir agenda não divulgada. “Nos Estados Unidos é comum a realização de pagamentos através do envio de recursos para uma conta bancária indicada pelo recebedor. O caso citado agora foi apenas mais um entre os inúmeros pagamentos feitos desta maneira por Meirelles durante o período em que residiu nos Estados Unidos”, informou a nota.

Na declaração de Imposto de Renda que Meirelles entregou à Receita Federal em 2003 (ano-base 2002), ele disse ter cinco contas bancárias. “Todos os bens de Henrique Meirelles estão declarados ao fisco brasileiro”, informou a nota. Meirelles informou ainda que todos os seus rendimentos nos EUA têm origem “conhecida” e foram declarados e tributados pelo governo norte-americano. Disse ainda que, após o seu retorno definitivo ao Brasil, todos os seus bens e rendimentos passaram a ser declarados e tributados pelo fisco brasileiro.

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