Lula volta os olhos do Brasil para a África

São Tomé – A primeira escala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua viagem por cinco países da África contém um certo simbolismo. Lula entra hoje na África por onde os negros capturados no continente saíam nos navios em direção ao Brasil: a ilha de São Tomé era usada como entreposto pelos comerciantes portugueses de escravos.

São Tomé e Príncipe, o menor país da África, com apenas mil quilômetros quadrados e 176 mil habitantes, aguardava hoje, o presidente brasileiro com enorme expectativa. Bandeirolas de pano coloridas, parecidas com as de festa junina, foram penduradas nos postes, no caminho do aeroporto para o centro, e havia faixas dando-lhe as boas-vindas.

Lula visitará ainda Angola, Moçambique, África do Sul e Namíbia. A previsão é que os investimentos brasileiros nestes países ultrapassem R$ 500 milhões até o fim do governo petista. A viagem de Lula, que terá uma comitiva de ministros e de 160 empresários dos mais diversos setores, equivale a uma redescoberta do continente africano pelo Brasil. “Redescoberta é uma expressão correta para o que está acontecendo. Havia muito pouca coisa ocorrendo recentemente entre Brasil e África. As relações foram menos intensas do que se pretendia desde nossa última ofensiva na região na década de 70. Faltava uma volta à África com intensidade”, diz o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que, em maio, fez os preparativos da visita de Lula.

Para a diplomacia brasileira, a África é uma “área de interesse geoestratégico permanente”. Com o fim da guerra civil em Angola, a diminuição das lutas étnicas e o fim do apartheid na África do Sul, o continente africano se transformou numa terra de muitas oportunidades econômicas e comerciais.

O geógrafo Jacy Braga Rodrigues, coordenador da Agência Brasileira de Cooperação, em São Tomé desde abril de 2002, diz que a notícia da eleição de Lula foi festejada com carreata e buzinaço nas ruas da cidade, assim como o pentacampeonato brasileiro na Copa do Mundo do ano passado. Os veículos da simpatia brasileira são os de sempre: as novelas da Globo, que a TV estatal pirateia, gravando da parabólica e retransmitindo; futebol e música.

Nem mesmo o apoio do Brasil ao impopular presidente Fradique de Menezes, durante o golpe de julho, parece ter arranhado a simpatia dos são-tomeenses pelos brasileiros em geral e por Lula em particular. Menezes, o maior empresário de São Tomé, conseguiu retornar ao poder, depois do golpe liderado pelo major Fernando Pereira (conhecido como Cobó), graças à intervenção de um grupo de países integrado pelos Estados Unidos Nigéria, África do Sul e o Brasil, representando a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Os militares golpistas, treinados na África do Sul, foram anistiados.

Voltar ao topo