Lula teme o colapso do sistema multilateral

Brasília

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem o endosso da Organização das Nações Unidas (ONU) para a condução do debate e do encaminhamento da situação no Iraque. “Até o último momento, devemos bater-nos por uma solução pacífica e, em qualquer caso, juntar esforços para defender o sistema multilateral e a Carta da ONU”, afirmou o presidente.

Ao receber o primeiro-ministro da Malásia, Mahatir Mohamad, no Palácio do Itamaraty, Lula disse que o Brasil e a Malásia têm visões estratégicas semelhantes na defesa de um sistema mundial aberto e democrático, “em especial nesta fase de crise internacional”.

Lula lembrou que, além de favorecer um combate sem trégua ao terror, o Brasil tem afirmado que esse combate não deve ofuscar a luta contra as desigualdades socioeconômicas no mundo, nem afetar o respeito aos direitos humanos. “Nossos países têm pleiteado que, ao lado do tema da segurança, a agenda internacional privilegie também assuntos que visam à erradicação das assimetrias e injustiças, como a luta contra a exclusão social e cultural, a verdadeira abertura comercial dos mercados dos países ricos, a construção de uma nova arquitetura financeira e do combate à fome, às doenças e à pobreza”, disse.

O presidente defendeu também um processo de reforma da ONU, visando a seu fortalecimento e que lhe permita continuar desempenhando seu papel na promoção da paz e do desenvolvimento entre os povos. “O momento atual demonstra que as Nações Unidas devem continuar a ser o foro por excelência para a solução pacífica dos conflitos”, destacou. Lula também afirmou durante encontro com líderes religiosos que faria mais sentido o presidente Bush, declarar guerra à miséria. “A guerra (no Iraque) é uma obsessão.”

Aos religiosos, Lula confidenciou que tentou, sem sucesso, marcar um encontro com presidentes da América Latina para um discurso único em defesa da paz. “Eles sentem dificuldades em aceitar o convite”, disse. O monge beneditino Marcelo Barros, de Goiás, pediu conselho quanto a uma eventual ida de representantes das entidades religiosas a Bagdá contra um bombardeio. Lula recorreu à sua história pessoal para persuadi-lo a não embarcar: “Em 1978, quando éramos da liderança sindical, entramos na sacristia da Igreja Matriz de São Bernardo para escapar da polícia”, lembrou Lula . “A polícia entrou e bateu na gente.”

O reverendo Fred Morris, representante do Conselho de Igrejas da Flórida, elogiou a posição do governo brasileiro contrária ao conflito no Iraque. “Quem vai sofrer com a guerra são os civis”, disse. Morris lembrou que, nos anos 70, foi missionário no Brasil e sofreu tortura dos órgãos de repressão do regime militar.

Lula recebeu ontem telefonema do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi Annan, que agradeceu os esforços do governo brasileiro na busca de uma solução para evitar os ataques dos EUA ao Iraque.

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