Lula: Namíbia é tão limpa que nem parece a África

Uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o discurso de despedida da viagem à Namíbia, provocou constrangimento na comitiva brasileira. “Quem chega em Windhoek não parece que está em um país africano. Poucas cidades do mundo são tão limpas, tão bonitas arquitetonicamente e têm um povo tão extraordinário como tem essa cidade”, disse Lula.

Windhoek – O discurso do presidente, que abriu mão de ler um texto mais formal para falar de improviso, foi traduzido do português para o inglês pelo tradutor da comitiva brasileira, que omitiu a palavra limpa e pulou para o comentário de Lula sobre a beleza da capital da Namíbia. Diante do silêncio dos ministros e jornalista, o presidente tentou explicar o que quis dizer.

“A visão que se tem da América do Sul, e especialmente do Brasil, é que é um continente de índios pobres. E a visão que se tem da África é de um continente de pobres, quando, na verdade, se não fosse o grande tempo de colonização e se não fossem as guerras internas, certamente os países africanos já teriam crescido de forma extraordinária”, afirmou o presidente.

O discurso de Lula foi acompanhado por um comunicado conjunto com o presidente da Namíbia, Sam Nujoma, para marcar o fim da visita da delegação brasileira ao país. Lula aproveitou para elogiar o governo namibiano e destacar a importância das negociações entre Brasil e Namíbia. “Acho que a Namíbia é um exemplo extraordinário pela sua infra-estrutura, pelo combate à corrupção, pela democratização da política e pela dedicação à parte mais pobre da população”, disse Lula.

De acordo com Lula, a África não precisa de favores, e sim de mais oportunidades, parcerias e que o “resto do mundo dê uma chance” à região em uma referência aos apelos dos países em desenvolvimento por regras mais justas no comércio internacional. “Vamos provar que não nascemos para ser pobres e podemos competir em igualdade de condições”, afirmou.

Mas a gafe do presidente na Namíbia repercutiu mal na Câmara e no Senado. Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), o episódio mostra “despreparo total” de Lula, “ao defender que limpeza é coisa de branco e não de um país negro, como a África”. O líder do PFL na Câmara, José Agripino (RN), afirmou que, com tal declaração, o presidente jogou toda a viagem fora. “Nessa declaração, revelou sentimento de desprezo com relação ao continente africano”, disse. Já o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), disse: “Eu li o discurso. Ele deveria também ter lido. Não precisava fazer improvisos.”

O senador Ramez Tebet (PMDB-MS) também condenou o ato falho de Lula: “Acho que os arroubos do presidente já estão passando do limite. Não é maldade, mas é uma gafe. Ele tem de saber que, quando está lá fora, está representando o Brasil e, como tal, deve ter mais cuidados.”

E Alencar chama Dirceu de Sarney

Anápolis – Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometia a sua gafe na África, dizendo que a capital da Namíbia era tão limpa que nem parecia uma cidade africana, em Goiás o vice-presidente, José Alencar, chamou o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, de José Sarney, presidente do Senado. Depois desta gafe, o vice-presidente disse: “espero que esse lapso não me faça perder o prestígio com o ministro José Dirceu”. Dirceu, que acompanhava Alencar na cerimônia, abraçou o presidente em exercício afirmando que ele morava em seu coração.

A solenidade de assinatura de atos autorizando as obras de recuperação na rodovia Belém-Brasília, em Anápolis, Goiás, teve depois um momento de descontração após ato falho do presidente em exercício. Com investimentos de R$ 227,9 milhões o governo federal pretende recuperar os 2.061 quilômetros da rodovia BR 153, entre Goiás e Pará, passando por Tocantins e Maranhão. Alencar enfatizou a recomendação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que as estradas sejam recuperadas antes da construção de novas rodovias e fez referência ao desperdício de dinheiro a que representa a precariedade das estradas e o abandono de rodovias que a cabam se deteriorando. Segundo ele, a recuperação da Belém-Brasília é uma obra “simbológica” pela sua dimensão e importância para o País.

Alencar viajou com o ministro-chefe José Dirceu e o ministro dos Transportes, Anderson Adauto. À tarde voltou a Brasília, e à noite foi jantar no Clube do Exército.

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