Brasília (Das agências) – O PT começa a se articular para vencer a corrida presidencial no primeiro turno. A estratégia do partido é se unir com o PMDB. E ela começou a ser esboçada ontem, com a definição de uma aliança informal em São Paulo, onde o PMDB lança Orestes Quercia para o Senado e apoia o PT com Aluisio Mercadante, também para o Senado, e José Genoino, para o governo.

O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, inocentou ontem o ex-governador Orestes Quércia (PMDB), presidente do diretório do PMDB em São Paulo, de todas as acusações feitas contra ele. O presidenciável petista admitiu que o partido está conversando com o PMDB no Estado, mas não quis confirmar se o PT já teria fechado uma aliança informal com a sigla para a eleição ao governo do Estado. “Acho que todas as denúncias, contra qualquer pessoa, têm que ser apuradas. Ou a pessoa ganha uma condenação ou um atestado de idoneidade. Sempre parto do pressuposto de que todas as pessoas são inocentes até que se prove o contrário”, disse Lula ontem em São Carlos.

Segundo Lula, a aproximação com o PMDB depende do que for definido na convenção nacional. A cúpula do partido acertou uma coligação com o PSDB em torno da candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência e indicou a deputada Rita Camata (PMDB-ES) como vice na chapa. O grupo de Quércia tenta derrubar a aliança na convenção nacional do partido marcada para 15 de junho. Lula minimizou o fato de ter sido um inimigo histórico de Quércia – que já fez várias acusações contra o ex-governador-, e disse que as conversações são com o “PMDB de São Paulo e não com o Quércia”.

Orestes Quércia foi acusado de diversas irregularidades durante sua passagem pelo governo de São Paulo, entre 1987 a 1990, mas saiu ileso de todas. O escândalo “Banespa/Ceccato”, em que o banco perdeu US$ 55 milhões em operações financeiras, é um dos exemplos. O presidente do Banespa na época, Otávio Ceccato, era amigo e homem de confiança de Quércia. O governo Quércia foi acusado também de gastar US$ 310 milhões na compra sem licitação de equipamentos israelenses para as universidades estaduais e as Polícias Civil e Militar.

A operação teria resultado em uma perda de US$ 40 mi-lhões para os cofres paulistas. Além disso, seu governo foi acusado de outras irregularidades durante sua gestão como a venda da Vasp, a construção do Memorial da América Latina, em São Paulo, e superfaturamento em obras do governo. No entanto, não pára em São Paulo a aproximação do PMDB de Orestes Quércia com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva.

A idéia do ex-governador paulista, em conjunto com o ex-presidente José Sarney, é lançar o senador Pedro Simon (PMDB-RS) para vice de Lula. É improvável Quércia e Sarney obterem êxito, mas essa articulação deve dar trabalho para os peemedebistas que apóiam o governo. A ala governista do PMDB já indicou a deputada Rita Camata (PMDB-ES) para candidata a vice na chapa do tucano José Serra. No último sábado, Quércia conversou com o presidente nacional do PT, José Dirceu, sobre as possibilidades de aliança. Ontem, após ter consultado Simon e Sarney, entre outros, Quércia telefonou para Dirceu. “O candidato a presidente do PMDB não será mais o José Serra. Será o Lula, e o vice será o Pedro Simon”, disse.

Apesar de todo assanhamento de Quércia, a iudéia parece um pouco longe da realidade. Procurado ontem, Simon deu uma resposta pouco empolgada: “Eu, vice [de Lula]? Não há hipótese”. E sobre o PMDB gaúcho não apoiar Serra ou apoiar Lula? “Não respondi nada ao Quércia. Quem tem de dizer é o PMDB do meu Estado”, declarou. “Ele diz ‘não’, mas senti que há espaço para dizer ‘sim’ mais adiante. Há uma grande vontade no nosso grupo de que o Simon seja o vice do Lula”, diz Quércia. Sarney prefere “esperar primeiro ouvir a opinião de Simon”.

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