Lula indica tucano para o BC e confirma Dirceu

Brasília

– O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou ontem, na Granja do Torto, em Brasília, o futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu, e confirmou o médico Antônio Palocci para a Fazenda. Lula anunciou também Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central (BC). Meirelles é filiado ao PSDB e foi o deputado federal eleito com o maior número de votos em Goiás -183.046. O nome de Marina Silva também foi confirmado para o Ministério Meio Ambiente.

Ao anunciar oficialmente o nome do presidente do Banco Central, Lula disse estar “reivindicando” dos eleitores de Goiás o deputado para uma “missão mais importante que o nobre exercício de seu mandato.” O presidente eleito também agradeceu o atual presidente do BC, Armínio Fraga, pelo trabalho conjunto feito com o futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci, reforçando para que os diretores do banco permaneçam em suas funções até que o novo governo faça os remanejamentos necessários com o passar do tempo.

Acompanhado de sua mulher Marisa, de Dirceu, de Palocci, de Meirelles, do senador eleito por São Paulo Aloizio Mercadante e do porta-voz André Singer, Lula afirmou que o anúncio de Palocci, feito na última terça-feira, foi um “ato falho.” “Em uma resposta que dei aos jornalistas no Clube de Washington, eu confundi o coordenador da equipe de transição com o ministro da Fazenda. Eu agora quero confirmar o Palocci como ministro da Fazenda”, explicou. “E o companheiro Dirceu, quero confirmá-lo para ministro da Casa Civil”, emendou Lula.

Probabilidades

O restante do ministério deve ser anunciado na próxima semana. Lula brincou com a ansiedade da imprensa com relação ao anúncio de seu governo, ao afirmar que o jornalista que mais acertar nomes ganhará um prêmio seu, que disse não saber qual. Porém, o empresário Luiz Fernando Furlan, 55, presidente do Conselho de Administração da Sadia, é o nome mais cotado para ser o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Furlan já teria aceitado o convite de Lula. Amigo do presidente Fernando Henrique Cardoso e sem ter declarado publicamente seu voto nas eleições deste ano, Furlan foi escolhido pelo presidente eleito por ser um símbolo do empresário exportador que o PT pretende estimular e por ter feito declarações avaliadas como em sintonia com as propostas do partido.

Fontes do PT e do governo dão como certo também o nome do atual presidente da Associação Brasileira de Agribusiness, Roberto Rodrigues, para o Ministério da Agricultura. Roberto Rodrigues é grande produtor de cana-de-açúcar e já ocupou a presidência da Sociedade Rural Brasileira. Ontem, ele manteve contatos no Ministério da Agricultura e chegou a participar de uma reunião do secretário de Produção e Comercialização, Pedro Camargo, com empresários da agroindústria canavieira.

As direções nacionais do PTB e do PT também chegaram a um consenso em torno dos petebistas que irão participar do governo de Lula: o senador Carlos Wilson (PE) e o deputado federal Walfrido Mares Guia (MG). Os dois nomes saíram nos encontros recentes entre os presidentes nacionais do PT, José Dirceu, e do PTB, José Carlos Martinez. Ambos acertaram também que o PTB terá um ministério e uma estatal, mas ainda não definiram quais são. Martinez, contudo, nega que qualquer nome ou pasta tenham sido discutidos nos contatos com o PT.

Meirelles vai renunciar ao cargo

Brasília

– O futuro presidente do BC, Henrique Meirelles, anunciou que vai renunciar ao mandato de deputado federal e se desligar do PSDB. “É um partido que respeito muito. Tenho amizade pessoal com o presidente Fernando Henrique Cardoso”, disse Meirelles.

Ele terá que renunciar o mandato, pois, segundo a Constituição, o deputado ou senador não pode exercer cargo público, perdendo o mandato quem desrespeitar a disposição. No entanto, a Carta Magna afirma que os parlamentares podem se afastar de sua função, sem perder o mandato, para exercer os cargos de ministro de Estado, secretário de Estado do Distrito Federal e chefe de missão diplomática. Neste caso, o cargo de Meirelles fica vago, sendo convocado o primeiro suplente.

O futuro comandante do BC acrescentou que se sente “totalmente à vontade” e ressaltou seu entusiasmo por fazer parte do futuro governo do PT. “Acho que é um momento vitorioso que estamos vivendo”, afirmou, ao responder a uma pergunta sobre eventual constrangimento pelo fato de pertencer ao PSDB e ser o primeiro integrante de outro partido a ser convidado para o governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

Biografia

Natural de Anápolis (GO), 56 anos, o indicado para o comando do Banco Central é engenheiro formado pela Politécnica da USP. Fez pós-graduação na mesma área na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde depois cursou mestrado em Administração de Empresas. Meirelles cursou ainda o Programa Avançado de Administração da Harvard Business School e participou de um programa desenvolvido pela International Banking Summer School em Hamburgo, Alemanha, específico para a área bancária.

Segundo colegas próximos, é um desses executivos que tem predileção por desafios. Entrou no BankBoston em 1974 para trabalhar na área de leasing, assumindo a vice-presidência do banco quatro anos depois. Foi transferido à presidência da filial brasileira em 1984, cargo que deixou após 12 anos para assumir a presidência mundial do conglomerado financeiro, acumulando a função mesmo depois da fusão com o Fleet que deu origem ao FleetBoston Global Bank. Meirelles foi o primeiro brasileiro a ocupar a presidência de um banco estrangeiro no Brasil e o primeiro estrangeiro a chegar a um cargo tão elevado no sistema bancário norte-americano, mesmo tendo aprendido a falar inglês somente quando adulto.

Por vontade própria, após seis anos deixou o almejado cargo, em que ganhava um salário anual avaliado em US$ 1,5 milhão, para disputar uma vaga de deputado federal pelo PSDB de Goiás, aparentemente convidado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Explicava que depois de ter alcançado um dos postos mais cobiçados na área financeira, queria dedicar-se à vida pública.

Futuro ministro se diz honrado pela escolha

Brasília – Responsável pela moderação do Partido dos Trabalhadores (PT) e homem de confiança do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu foi indicado para ocupar o ministério da Casa Civil, um cargo-chave no governo, por ser o mais próximo à presidência.

Dirceu transformou o PT num partido mais moderado, o que ficou claro em seu programa de governo que praticamente seguiu as exigências do mercado, o qual se mantém favorável às políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao pagamento da dívida externa. Aos 56 anos, um a menos que Lula, Dirceu foi o responsável por aproximar o PT do empresariado e do PL.

Honrado

Dirceu (PT-SP) disse que se sente “honrado” por ter sido escolhido para o cargo pelo presidente Lula. “Sei das responsabilidades que vou assumir”, afirmou Dirceu. Ele comentou que no dia 1.º de janeiro – dia da posse no cargo – vai realizar um sonho seu e de sua geração.

Dirceu assegurou que o governo eleito conseguiu “uma grande vitória” ao aprovar na Câmara, nos dois últimos dias, a MP 66, mudanças na Cide em relação aos preços de combustíveis e a prorrogação da Lei Kandir.

Indicação recebida com ironia no PSDB

Brasília

– A pedido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente Fernando Henrique Cardoso encaminha hoje ao Senado mensagem com o nome do novo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A data do envio da mensagem foi acertada entre os dois presidentes, ontem, em telefonema dado por Lula a Fernando Henrique. A informação foi confirmada pelo porta-voz do Planalto, Alexandre Parola.

A indicação de um tucano para o Banco Central foi recebida com euforia e ironia no Palácio do Planalto. Desde cedo, quando já circulavam as notícias sobre o nome do deputado eleito pelo PSDB de Goiás para o cargo, ministros e auxiliares do presidente Fernando Henrique comemoravam o fato de Lula ter ido buscar nos quadros do partido um nome para acalmar o mercado. “Não se pode deixar de reconhecer que foi uma escolha abrangente”, comentou o presidente, durante almoço realizado no Palácio da Alvorada, em homenagem ao jurista Evandro Lins e Silva, empossado hoje integrante do Conselho da República.

A decisão de Lula foi um dos temas dominantes do almoço, no qual estavam presentes vários ministros e ex-ministros do governo Fernando Henrique. “Como o mundo dá voltas”, ironizou um dos ministros, durante o almoço, tendo seu comentário endossado pelo presidente que concordou com a tese de que “o mundo é redondo e gira”.

Outro ministro lembrou que a necessidade de Lula ter de tomar esse tipo de decisão, nomeando justamente para o Banco Central um tucano, vai ensinar ao PT que nem sempre é possível se fazer tudo que se deseja, como se deseja, e que, muitas vezes, é preciso, primeiro, se dar passos bem menores do que as pernas, para se conseguir alcançar os objetivos. “O PT vai ter de explicar para seus eleitores que o que o governo Fernando Henrique fez, quando nomeava pessoas de outros partidos, não era fisiologismo, era necessidade de garantir a governabilidade”, acrescentou este ministro.

Oficialmente, no entanto, as declarações foram bem mais amenas, conciliadoras e elogiosas. O ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência, Euclides Scalco, por exemplo, lembrou que Meirelles é um homem experiente e é do ramo. Scalco acrescentou ainda que “o presidente tem direito de escolher quem ele quiser inclusive no partido adversário”.

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