Lula diz que Brasil não intromete

Quito – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu em Quito, ontem, antes de embarcar para Brasília, que a colaboração do Brasil no trabalho do grupo de países amigos da Venezuela não será intervencionista em momento algum. Segundo Lula, o governo brasileiro apenas discutirá possíveis soluções para a crise venezuelana. Antes de serem aplicadas, essas soluções deverão ser aceitas pelo governo de Hugo Chávez, disse o presidente brasileiro.
“O Brasil não vai dar palpite, não vai fazer ingerência”, destacou. “Será uma contribuição. É assim que quero para mim e é assim que quero que seja o acordo”. Lula revelou que foi um dos defensores do ingresso dos Estados Unidos no grupo, por achar necessário que países com pensamentos diferentes dêem sua colaboração, de forma que seja possível encontrar uma saída aceita pelo governo e pela oposição da Venezuela, onde uma greve geral contra Chávez já dura mais de 40 dias.
“Só tem sentido funcionar se houver gente que pensa diferente” alertou. “Se todos pensarem de uma mesma forma, não terá validade. A pluralidade de países é que vai facilitar o processo de paz, sempre lembrando que isso só acontecerá se houver disposição do governo da Venezuela”. Em seu entendimento, Lula acha que a solução para a crise venezuelana não está na antecipação das eleições, mas lembrou que não tem a intenção de pré-julgar as decisões tomadas em consenso no país vizinho.
“Não cabe a mim dizer que sou contra, ou a favor”, disse. O presidente afirmou, ainda, que a solução para a Venezuela, seja qual for, deverá respeitar os princípios democráticos e constitucionais. “Temos um dado concreto: Chavez foi eleito. A partir daí, é preciso sair uma solução”, afirmou. Lula lembrou sua própria experiência tanto na campanha pelas eleições diretas no Brasil, quanto nas três derrotas que sofreu antes de chegar à presidência.
“Participei do maior movimento civil da história do meu país, que foi a campanha pelas diretas já”, lembrou. “Nos submetemos à lógica da democracia: fomos ao Congresso, perdemos, choramos, mas acatamos. Eu perdi três eleições, mas nunca sugeri que se tirasse o presidente do poder por causa do resultado delas. Ele (Fernando Collor de Melo) teve que sair por corrupção. Além disso, se pesquisa for razão para tirar presidente, haverá uma troca antecipada em todos os países”.
O presidente avaliou que sua primeira viagem ao exterior serviu para aproximar o Brasil dos demais países do continente. “Saio daqui com a certeza de que estamos construindo uma nova América do Sul”, disse. Lula alertou, entretanto, que é preciso trabalhar com “paciência e muita sensatez”.

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