Lula divide opinião de cardeais brasileiros

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Dom Cláudio Hummes (esq.) e
dom Eusébio Scheid, ontem,
durante jantar no Pio Brasileiro.

Cidade do Vaticano – Um dia após as declarações do arcebispo do Rio, d. Eusébio Scheid, de que Lula ?não é católico, mas um caótico?, o arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, saiu em defesa do presidente e declarou que o considera católico. Respondendo a uma questão sobre como avaliava os comentários de d. Eusébio, dom Cláudio afirmou: ?Ele (Lula) é um cristão e um católico a seu modo e ele se declara católico?, disse o religioso. Para o cardeal, cotado como um dos favoritos para se tornar o próximo papa – e mais diplomata em suas declarações do que seu colega religioso -, cada católico é ?diferenciado, assim como suas práticas?.

A polêmica ocorre um dia antes da chegada de Lula ao Vaticano onde acompanhará os funerais de João Paulo II com uma comitiva brasileira. O político havia oferecido o avião presidencial para levar ambos os cardeais, mas os dois preferiram ir antes para o Vaticano.

?Eu o considero católico, normalmente?, disse d. Cláudio, que ontem chegou a Roma para os funerais do papa João Paulo II. Ele ainda lembrou que conhece Lula desde que o presidente começou a construir sua militância sindical e sua vida política: d. Cláudio foi bispo de Santo André, no ABC paulista, exatamente no período das greves operárias no final dos anos 70s.

Na terça-feira, ao desembarcar no aeroporto de Roma, d. Eusébio não poupou críticas ao presidente e disse que, por seu passado operário e confusões, a fé de Lula ?não era cultivada?: ?Ele e o Espírito Santo não se entendem?, disse, lembrando de decisões do governo, como na questão do aborto ou no relacionamento com os grupos gays. D. Eusébio ainda completou: ?Você acha que ele (Lula) sabe o que é o Espírito Santo??.

Ontem, os dois cardeais se encontraram durante o jantar, mas as diferenças de opinião ficaram claras. D. Eusébio emitiu uma nota de esclarecimento sobre suas declarações feitas no dia anterior. Na declaracão distribuída aos jornalistas em Roma, o cardeal do Rio de Janeiro não negou que considere o presidente brasileiro ?mais confuso e ambíguo (caótico)? em relacão à fé, moral e ética da Igreja. Segundo essa versão do texto, d. Eusébio aponta que Lula não é ?suficientemente católico?. A versão foi colocada em um mural do Colégio Pio Brasileiro, em Roma, onde os dois cardeais estão hospedados até o conclave no Vaticano.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, outra nota era emitida pelo cardeal e não incluía essas considerações. Apenas afirmava que suas declaracões haviam sido dadas em um ?ambiente impróprio?. Ele também garante que não desrespeitou nenhuma autoridade e admite que não deveria ter reagido quando perguntado sobre o presidente.

Já d. Cláudio parece ter uma avaliação bem diferente de seu colega quanto ao presidente e sua fé. ?Lula é um homem que se declara e se considera católico. Ele tem comungado mais vezes comigo, sobretudo no dia 1.º de maio. Para mim, ele é tão católico como todos os outros católicos do Brasil?, disse o arcebispo de São Paulo, sentando em frente a d. Eusébio no jantar do Colégio Pio Brasileiro. Enquanto d. Cláudio dava essas declarações à imprensa, do outro lado da mesa d. Eusébio, irritado, queixava-se dos jornalistas.

Nota de dom Eusébio sobre Lula

Roma – ?Faço questão de sublinhar que jamais desrespeitei autoridade constituída ou legitimamente eleita. A entrevista deu-se em ambiente impróprio, no barulho da saída do aeroporto de Roma. É claro que não gostei de ser abordado – e apenas isso – sobre a escolha do futuro papa, quando eu apenas quisera ter falado sobre o extraordinário pontificado do papa João Paulo II, cujos frutos ainda colheremos por muito tempo na Igreja Católica e no mundo todo. Quando se apontou a opinião do nosso presidente sobre o assunto, reagi – o que teria sido melhor não ter feito – porque não era o senhor Lula que deveria falar sobre esta questão, ?sendo a escolha do papa uma escolha iluminada pelo Espírito Santo?. Não me parecia que o assunto do Espírito Santo fosse da alçada do nosso senhor presidente, dado que nas matérias de fé, de moral e de ética da nossa Igreja ele me parecia mais confuso, ambíguo (?caótico?) do que lídimo e claro, isto é, não suficientemente católico?.

Aparecida faz missa de despedida

Aparecida – O Santuário Nacional de Aparecida, um dos maiores centros religiosos de peregrinação do País, faz amanhã, às 9 horas, uma missa solene para se despedir de João Paulo II. A basílica intensificou as orações pedindo que os fiéis rezem pela alma de João Paulo e pela escolha do novo papa. ?Vamos pedir que o Espírito Santo conduza a escolha e queremos que todos os fiéis rezem conosco?, afirmou o reitor do santuário, Joércio Gonçalves Pereira.

Os missionários redentoristas que trabalham no santuário acreditam que depois da internação e morte de João Paulo II o movimento na basílica aumentou, principalmente durante as celebrações. ?Estamos celebrando com serenidade esse momento, de unidade e esperança na vida eterna?, afirmou o padre Josafá de Jesus Moraes. No último fim de semana, 70 mil fiéis participaram das quinze missas pela alma do papa em Aparecida. Nas outras cidades da região também haverá missas pelo enterro de João Paulo. Em Caraguatatuba, a missa será às 19h30 na Catedral Divino Espírito Santo.

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