Londres – O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou em artigo publicado ontem pelo jornal britânico The Guardian que a onda conservadora que percorreu o mundo após a queda da União Soviética “contaminou segmentos da esquerda”. “O realismo político não pode ser utilizado como justificativa para abandonar os sonhos que constituem a fundação do ideário da esquerda”, afirmou o presidente.
Lula foi a Londres participar de uma série de reuniões sobre a “Terceira Via” e a reforma dos Estados promovidas pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair. Junto aos presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e do Chile, Ricardo Lagos, entre outros, ele participará hoje e amanhã da cúpula de governantes de centro-esquerda, que será realizada no condado de Surrey, ao sul de Londres.
No artigo publicado em The Guardian, o presidente afirmou que é necessário ter “coragem” para “iniciar um ambicioso programa de reformas que possa melhorar, de forma imediata, as condições de vida da maioria da população”. “Mas essas mudanças só devem ser entendidas como um aspecto do processo mais amplo que a transformação social representa”, acrescentou. Lula resumiu no artigo os objetivos de seu governo, como lutar contra a fome e, na política externa, priorizar as relações com os outros países da América do Sul.
A passagem de Lula pelo Reino Unido está gerando uma expectativa muito superior à dos demais chefes de Estado que participarão do encontro de cúpula da Governança Progressista. Praticamente todos os principais meios de comunicação britânicos solicitaram entrevistas ao presidente brasileiro. O melhor termômetro, no entanto, é a disputa por convites para a palestra que fará na segunda-feira na London School of Economics and Political Science (LSE). Inicialmente, a universidade havia reservado uma sala com capacidade para 400 pessoas, mas a demanda por convites foi intensa e a fala de Lula teve de ser transferida para outro teatro, de mil lugares.
Outras 500 pessoas deverão acompanhar a palestra num telão. O evento deverá ser o ponto alto da primeira visita de Lula ao Reino Unido como chefe de Estado. A platéia será presidida pelo diretor da LSE e um dos principais conselheiros políticos do primeiro-ministro Tony Blair, Anthony Giddens.