Língua solta de Stédile pode acabar em cadeia

Porto Alegre – A procuradoria-geral de Justiça do Rio Grande do Sul recebeu anteontem pedido de prisão do líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Pedro Stédile. O pedido foi feito por meio de uma notícia-crime, enviada pelo presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Estado), Carlos Sperotto, e pelo deputado Jerônimo Goergen (PP), que preside a comissão de agricultura da Assembléia Legislativa.

Os dois criticaram as declarações de Stédile, feitas durante discurso em acampamento sem-terra nos municípios de Canguçu, Santa Cruz do Sul, Erechim e Palmeira das Missões, todos no Rio Grande do Sul. Segundo eles, o pronunciamento incita os conflitos entre ruralistas e sem-terra. Ele definiu sua organização como “um exército de 23 milhões de pessoas” que “não podem dormir enquanto não acabarem com eles ?os latifúndios?.

“A luta camponesa abriga hoje 23 milhões de pessoas, e do outro lado há 27 mil fazendeiros [proprietários rurais que têm áreas com mais de 2.000 hectares]”, afirmou Stédile ontem. “Essa é a disputa que existe na nossa sociedade. Será que mil podem perder para um? É muito difícil. O que falta é nos unirmos, para cada mil pegar um”, completou.

Além de definir os sem-terra como “nosso exército”, Stédile afirmou que os latifundiários são os seus “inimigos” na “luta” da reforma agrária. O MST, segundo ele, tem de infernizar a vida dos latifundiários. Alguns dos acampados visitados por Stédile (que incluem também integrantes do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA) invadiram ontem o pátio do Sindifumo (Sindicato das Indústrias de Fumo em Santa Cruz do Sul). A invasão tem como objetivo o ressarcimento para pequenos produtores que venderam fumo abaixo do preço médio pago atualmente.

As declarações de Stédile colocam cada vez mais o MST em confronto com o PT e o governo. O presidente do PT, José Genoino, disse ontem que o partido discorda das declarações do líder do MST. “Discordamos do Stédile em relação ao processo e achamos que negociações podem ser feitas e soluções devem ser encontradas sem ferir a ordem legal e jurídica do País”, disse. Ele ressaltou que o PT não aprova invasões fora da lei. O presidente do PT disse ainda não ter informações sobre eventuais infiltrações políticas nas invasões em todo o País. Ontem, o governo levantou essa hipótese.

Já o integrante da bancada ruralista na Câmara e ex-presidente da UDR, o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO) disse que Stédile está acendendo um pavio do barril de pólvora, e que o governo federal está sendo omisso para impedir a onda de invasões de terras no campo e de terrenos nos centros urbanos. “As conseqüências são gravíssimas e o presidente será responsável por esse barril de pólvora”, disse Caiado. Ele disse ainda que Stédile está fomentando a discórdia e a violência, e o classificou de “desequilibrado mental”.

PSDB: cooptar zapatistas é perigoso

Brasília

– O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), culpou ontem a “omissão” do governo pelo aumento da tensão no campo, com destaque para o discurso do coordenador do movimento João Pedro Stédile. Para o senador, o Planalto comete um erro ao tratar o MST como parceiro entregando-lhe diretorias do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). “O governo está cometendo erros demais e não percebeu que pode cooptar fisiológicos, mas não zapatistas”, afirmou. “A tática não deu certo e agora o movimento investe contra as estruturas do governo.” A “arrogância” de Stédile, segundo Virgílio, se deve à “mancebia política” mantida pelo PT com o MST: “Tanto que, na campanha, o MST não fez nenhuma invasão.”

A declaração de “guerra” aos fazendeiros feita pelo líder do MST, João Pedro Stédile, também provocou reações negativas tno governo. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, classificou as declarações de Stédile como absurdas, equivocadas e uma ameaça ao estado de direito democrático. “A ameaça feita contra os empresários rurais revela total desconhecimento sobre a verdadeira revolução pacífica vivida pelo agronegócio brasileiro”, disse.

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