Kirchner: Lula joga mole com EUA

Buenos Aires – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido “demasiadamente” próximo dos EUA e condescendente com as exigências do FMI (Fundo Monetário Internacional). Essa seria a opinião do presidente argentino, Néstor Kirchner, em nota veiculada anteontem pelo jornal Ámbito Financiero. “Lula se equivocou com os EUA, se aproximou demais, não vai ganhar nada. Eu, comparado com ele, vou jogar mais duro”, teria dito Kirchner a assessores que divulgaram o conteúdo da reunião ao jornal.

Segundo o Ámbito, esse será o tom da conversa que Kirchner terá com líderes europeus e com o próprio Lula na viagem que faz a partir de ontem à Europa. O presidente argentino participará de um encontro para discutir os rumos da Terceira Via (grupo de governantes que visariam conjugar os benefícios da economia de mercado com uma maior preocupação social do Estado).

Kirchner também terá reuniões com credores e representantes de empresas que administram concessões de serviços públicos na Argentina. O presidente tratará de temas políticos, como a soberania das Malvinas, em poder do Reino Unido, mas também de questões da área econômica. Aos credores, explicará quais serão as condições para a reestruturação da dívida argentina que está em moratória, avaliada em cerca de US$ 70 bilhões. O governo quer atrelar o pagamento dos títulos que serão emitidos ao crescimento da economia. No primeiro trimestre deste ano, o PIB argentino cresceu 5,4%.

Com as empresas, tentará negociar uma forma paliativa de reajustar as tarifas públicas. As taxas estão congeladas há mais de um ano e as companhias pressionam para que o governo aprove um aumento de preços. Algumas processam a Argentina no órgão de arbitragem para divergências entre empresas e governos do Banco Mundial.

O ministro da Economia, Roberto Lavagna, segue com as negociações para apressar a revisão do acordo firmado com o FMI em janeiro e possibilitar o fechamento de outro, de três anos, que deve sair até setembro. Em junho, a Argentina conseguiu cumprir parte da meta de superávit primário acertada com o Fundo. O saldo foi de US$ 322 milhões.

Na próxima segunda-feira, Lula vai se encontrar reservadamente com seus colegas Néstor Kirchner, da Argentina, e Ricardo Lagos, do Chile, durante um café-da-manhã, em Londres, de acordo com o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Desvencilhados da presença de seus chanceleres e assessores, os três presidentes deverão concentrar-se em questões relativas à estabilidade política, à retomada do crescimento, à integração comercial e física e à segurança na América do Sul. O encontro, entretanto, abrirá a possibilidade para Kirchner esclarecer a Lula sobre suas supostas críticas contra a “aproximação” do governo brasileiro com os Estados Unidos.

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