Para Reale, a surpresa será grande.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que o pior da crise já passou e ancorado em uma boa performance da economia, acredita que termina o ano bem e entra em 2006 com as turbinas aquecidas para a reeleição. É o que se deduz dos discursos dos últimos dias em que retomou a retórica grandiloqüente quanto se refere ao seu próprio governo.

No entanto, segundo o ex-ministro da Justiça e jurista Miguel Reale Júnior, o mesmo que fez a petição do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, as futuras revelações das CPIs vão surpreender o presidente, o País e aprofundar a crise. Pelo menos foi o que ele garantiu ao jornalista Edson Sardinha, do site Congresso em Foco. Reale Júnior antevê o aprofundamento da crise política a partir do próximo mês. De acordo com o advogado, um silencioso trabalho de investigação deve abalar o Palácio do Planalto ainda este ano e romper o aparente abrandamento, causado pela eleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), do terremoto político que sacode o governo Lula.

"A investigação está começando agora a se aprofundar, por meio de um trabalho que não vai aparecer na imprensa, e que não é para aparecer na mídia. É um trabalho de escrivaninha, de gabinete, não para os holofotes, nem para capa das revistas semanais", diz. "O que vai surpreender na frente é a revelação dos dados probatórios decorrentes dos exames dos dados bancários e telefônicos. Aí, sim, a surpresa será grande", complementa.

Apesar de não antecipar a "surpresa", o ex-ministro da Justiça aponta ao site Congresso em Foco, alguns pontos que ainda carecem de esclarecimento da parte do presidente Lula. "Existem fatos que ainda precisam ser esclarecidos, como a apresentação da lista dos visitantes do Palácio da Alvorada. Esse requerimento já foi feito, e o gabinete institucional ainda não respondeu."

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A confirmação de alguns desses elementos, segundo Reale Júnior, pode comprovar a prática de improbidade administrativa e desencadear, ao final das investigações das CPIs, o que, por ora, ainda não se sustenta: um pedido de impeachment. "Há elementos indicativos de que eventualmente Marcos Valério tenha estado duas vezes no Alvorada. É interessante que se esclareça logo essa dúvida e se apresente a relação de visitas ao palácio. Por que tanta resistência em apresentar esses elementos? O pagamento das contas do PT pelo Paulo Okamotto (presidente do Sebrae), o recebimento de presentes valiosos, todo um conjunto de ternos e vestidos, pela primeira-dama, tudo isso não foi esclarecido. Pode ter havido improbidade administrativa. Quem tem de dar explicações é o Palácio do Planalto."

O Planalto não comenta. A possibilidade de o empresário mineiro ter ido à residência oficial da presidência, à qual faz referência o ex-ministro da Justiça, resultou, segundo dois deputados da CPMI dos Correios, na aprovação de um pedido de informações ao Gabinete Institucional. Os dados, contaram, ainda não teriam sido encaminhados pelo Executivo. A secretaria-geral da comissão, no entanto, informou que não localizou em seus arquivos nenhum pedido de registro de visitas ao Alvorada. Procurada pela reportagem para comentar o assunto, a assessoria de imprensa do Planalto informou que o presidente Lula não se manifestaria sobre o assunto.

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