Brasília – O relator da CPI Mista dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), anunciou ontem depois de encontrar-se com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, que a documentação apreendida na agência do Banco Rural de Belo Horizonte, é "polvora" pura. Segundo ele, lá estão relacionados os nomes de parlamentares que receberam dinheiro das contas do empresário Marcos Valério de Souza, acusado de operar o mensalão.
Jobim informou ontem ao relator que encaminhará até amanhã os documentos. Serraglio ressaltou que, se comprovada a autenticidade do material, estará caracterizada a existência do pagamento de mensalão a parlamentares. "Passando pela perícia da Polícia Federal, é prova material. Não precisa de muita conversa", disse Serraglio sobre a possibilidade dos documentos que serão enviados pelo Supremo caracterizarem a existência do mensalão.
A Polícia Federal requereu ao STF todo o material para efetuar uma perícia técnica. Antes, porém, Serraglio disse que Nelson Jobim garantiu que enviará uma cópia dos documentos para a análise da CPI Mista dos Correios. Quanto à possibilidade de prisão preventiva do empresário Marcos Valério, o relator disse que a decisão cabe à Polícia Federal e ao Ministério Público, não à CPI. No entanto, a destruição de documentos de suas empresas já caracteriza obstrução dos trabalhos da Justiça, o que, para Serraglio, justificaria a prisão de Valério.
A percepção no Palácio do Planalto é que a longa crise política começa a ter os seus lances decisivos nesta semana, com o depoimento hoje de Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, mulher do publicitário Marcos Valério e amanhã, da entrega da lista do mensalão. Ainda assim, o senador Delcidio Amaral (PT-MS), presidente da CPI, recomendou ontem, em São Paulo, "cautela e caldo de galinha" para a análilse dos documentos apreendidos no Banco Rural de Belo Horizonte e que comprovariam o pagamento de mesadas a parlamentares, cujo teor estaria sendo remetido pelo STF à CPI.
O relator da CPI, Osmar Serraglio disse que os documentos são "explosivos" e podem revelar a relação dos parlamentares que recebiam "mensalão" para apoiar o governo no congresso. "Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Não podemos fazer julgamento e vamos analisar os documentos com calma", disse Delcidio Amaral. Ele informou que a CPI ainda não decidiu se o depoimento da esposa de Marcos Valério, Renilda de Souza, será aberto ou a portas fechadas. Mas a expectativa é de que os principais lances deverão ocorrer nos próximos dias. "As denúncias já conhecidas ainda não são tudo. Há mais coisas por vir", disse, ontem, sem dar maiores detalhes, o presidente nacional do PT, Tarso Genro, para quem a direção anterior "terceirizou" as finanças do partido. "Muitas coisas" ainda vão aparecer, reconheceu, observando que a sucessão de acontecimentos está deixando o presidente Lula "atônito". Mesmo assim Tarso disse acreditar que é viável a candidatura à reeleição.
"O presidente está cada vez mais atônito com os acontecimentos que vêm se sucedendo. Isso gera uma certa dificuldade nos movimentos do presidente. Mas ele tem dialogado com a nação", disse Tarso.