Irmão de montanhista acidentado vai para Argentina

Em busca de informações sobre o irmão, o montanhista Bernardo Collares Arantes, de 46 anos, que se acidentou na última segunda-feira, na escalada do monte FitzRoy, Kátia Collares chegará amanhã ao povoado de El Chaltén, na Patagônia, no extremo sul da Argentina.

Bernardo escalava o monte com a amiga Kika Bradford, que foi obrigada a deixá-lo no meio da montanha, com uma hemorragia interna e uma provável fratura da bacia para tentar buscar socorro.

O tempo ruim e a falta de helicóptero em El Chaltén, impediram qualquer tentativa de resgatar o presidente da Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro (Femerj).

Amigo de Bernardo e de Kika, André Ilha, diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), considera um verdadeiro feito ela conseguir descer o monte sozinha, debaixo de nevasca.

“Os dois sabiam que a única chance que ele tinha era ela descer e pedir ajuda. A descida dela foi alguma coisa inacreditável. Sem o saco de dormir que deixou com ele, ela dormiu no meio da parede, debaixo de neve. Depois, atravessou sozinha a geleira cheia de buracos perigosos”, contou Ilha após falar com Kika.

“Em estado de choque e muito cansada”, ela está em El Chaltén, onde o namorado, Juan Sanches, é dono de uma pousada. Segundo ela disse para Ilha, com uma melhora do tempo seria possível resgatar o corpo de Bernardo, embora não seja uma tarefa fácil. Os amigos entendem que ele não deve sobreviver além de terça-feira. “Todo mundo que vai ali sabe que é uma escalada extremamente aventurosa e absolutamente impossível o resgate por terra no ponto em que aconteceu o acidente”, explica Ilha, também um montanhista.

Histórico

O acidente ocorreu às 10 horas de segunda-feira quando os dois, sem atingir o cume do monte que é considerado de difícil acesso, iniciaram o retorno. Kika chegou a um platô, mas quando Bernardo descia pela mesma Via Afanassief (caminho de 1.800 metros na montanha que leva o nome do francês que primeiro passou por ali), a corda do rapel que usava escapuliu de onde estava ancorada e ele teve um tombo de cerca de 15 metros, caindo de lado. Com o choque sofreu uma possível fratura da bacia e uma hemorragia interna (ficou com a região completamente roxa, inconsciente).

Kika ficou ao seu lado por quatro hora, período que ele intercalou momentos de consciência e inconsciência. Das poucas vezes em que se mexeu, chorou de dor. Depois, em comum acordo, decidiram que ela tentaria buscar socorro.

Ela chegou à base da montanha na terça-feira à tarde e só depois de atravessar a geleira é que encontrou o namorado que tinha ido em busca de notícias por causa do mau tempo.

Todos concluíram que não havia como fazer o resgate. “Seria dificílimo chegar aonde ele estava antes da próxima tempestade e se chegassem não teriam como descer, era preciso uma maca rígida”, explica Ilha.

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