O Instituto do Coração do Hospital das Clínicas alcançou no último fim de semana a simbólica marca do centésimo transplante cardíaco pediátrico realizado pela instituição.

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O paciente é o carioca Lucas Coelho da Costa, de 12 anos, que sofre de insuficiência cardíaca provocada por uma doença genética, a cardiomiopatia restritiva, que enrijece o músculo e impede que o sangue seja bombeado para o corpo em quantidade suficiente.

 

“Esse é um momento histórico porque o programa de transplante cardíaco infantil do Incor completa 20 anos e porque sabemos da dificuldade de fazer transplante em crianças”, afirma a professora Estela Azeka, cardiologista da Unidade Clínica de Cardiologia Pediátrica e Cardiopatias Congênitas do Adulto, que acompanhou 97 pacientes transplantados – três deles passaram por novos transplantes.

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Além de a cirurgia em criança ser mais delicada, a grande dificuldade é de se conseguir doador. Levantamento do qual Estela participou, entre 1996 e 1997, mostrou que para cada mil potenciais doadores adultos, havia apenas 100 infantis.

A proporção desigual se manteve na década seguinte (1997-2007) – 150 crianças, para mais de mil potenciais doadores adultos. O índice de recusa da família está em cerca de 30%.

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“São crianças que sofreram acidentes violentos. Muitas vezes os pais se sentem culpados, embora sejam fatalidades. É preciso um chamamento maior por esses possíveis doadores, uma campanha de conscientização”.

O carioca Lucas, que sonha em ser ator, tem 1,57 metro e já pôde receber o coração de um adulto. Ele respira sem auxílio de aparelhos e está lúcido e comunicativo.

Mas Rodrigo de Melo Marques tinha apenas 4 anos quando passou por um transplante, em dezembro de 2007, também por cardiomiopatia restritiva. “A doadora foi uma menina de 5 anos, que se engasgou com uma uva. Fizemos questão de agradecer pessoalmente aos pais dela por tanta generosidade, num momento de tanta dor”, conta o eletricista Alexandre Vasconcelos Marques, de 41 anos.

Fanático por futebol e pelo São Paulo, Rodrigo nem de longe lembra o menino que passou sete meses internado numa UTI, à espera de doador. Outro caso marcante foi o de Felipe Watanabe.

Os pais dele atravessaram o mundo para que o filho, então com 2 anos, fosse salvo por um transplante no Incor. A família havia se mudado para o Japão, quando foi descoberta a insuficiência cardíaca e diagnosticada a necessidade do transplante. Mas a legislação daquele país não permite a doação de órgãos por pessoas com menos de 16 anos.