Brasília e Rio – O governo federal rejeitou ontem as condições impostas pelo Rio para o envio de tropas das Forças Armadas para ajudar no combate ao crime organizado. O secretário da Segurança, Anthony Garotinho, pediu formalmente o apoio de 4 mil homens, mas discriminou que eles deveriam pertencer ao corpo de pára-quedistas do Exército, dos fuzileiros navais ou às forças especiais e atuariam em oito favelas. O tom irritou o governo. “As Forças Armadas não são instrumentos prêt-à-porter que se possa pegar e trazer sob a direção das autoridades estaduais”, disse o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
Garotinho entregou o ofício com o pedido formal de cessão de militares ao secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Correa, durante reunião no Rio. Ele afirmou que caberia aos homens do Exército fazer o “cerco tático” ao tráfico nos Morros do Borel, Dendê e Mangueira, nos Complexos do Alemão, São Carlos, Jacarezinho e da Maré e na Favela da Metral.
Más condições
No quinto dia de conflito na favela da Rocinha, policiais militares denunciaram as más condições de trabalho a que têm sido submetidos desde que foram deslocados para ocupar o morro por causa da disputa entre traficantes rivais pelo controle de drogas no local. “A corporação nos colocou aqui sem armamento, sem condições de trabalho, sem colete (à prova de balas) e sem alimentação, o que é o principal”, disse um PM, que não quis se identificar. Os turnos dos policiais variam de 8 a 24h.
Eles denunciam que, além da falta de coletes para toda a tropa, muitos estão armados apenas com revólveres. Alguns, segundo os PMs, estavam até enferrujados. “A maioria da tropa está sem colete e sem fuzil porque não tem para todo mundo. Só tem revólver, que é uma arma obsoleta e nem é mais usada na corporação”, revelou um soldado. “Se eu pudesse, largava isso tudo. Até para conseguir água temos que nos virar”, disse. No fim da tarde, durante a troca de turno, cerca de 50 PMs armados com revólveres deixaram a favela.