O governo acionou seu rolo compressor e tomou conta do debate público promovido pelo Senado para tratar da medida provisória que dividiu em dois o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e criou o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade. Na missão, até o presidente do Conselho de Ética, senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), esqueceu um pouco as tormentas vividas pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e foi presidir a sessão da Comissão do Meio Ambiente que tratou da MP.

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A intenção do Senado é votar a medida provisória ainda nesta semana. Assim como ocorreu na Câmara, deverá também ser aprovada pelo Senado. Se sofrer alguma mudança, voltará para o exame dos deputados. É provável que haja modificações. Os senadores querem acrescentar ao texto do projeto emenda que tira do Poder Executivo o direito de criar com exclusividade as áreas de proteção ambiental. O Ministério do Meio Ambiente é contra a medida, mas a base governista está rachada nesta questão.

No debate desta terça-feira (10), tudo foi feito para que nada desse errado para o governo. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e seu secretário-executivo, João Paulo Capobianco, chegaram à sala da comissão por uma entrada lateral, forma que encontraram para fugir do assédio de servidores do Ibama, em greve desde o dia 14 de maio. Só foram permitidos dentro da sala do debate cerca de 20 servidores, assim mesmo depois de darem a garantia de que, se protestassem, o fizessem em silêncio. Os senadores Aloizio Mercadante (PT-SP) e Expedito Júnior (PR-RO) ainda tentaram levar os cerca de 30 que ficaram do lado de fora, mas Quintanilha disse não. Aos servidores, restou o direito de levantar folhas de papel pedindo a rejeição da MP.

Enfática

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Marina Silva foi até mais enfática do que de costume na defesa da divisão do Ibama. Disse que a criação do Instituto Chico Mendes servirá para dar maior agilidade à fiscalização e ao exame das licenças ambientais, que ficarão a cargo do Ibama, e garantir a vigilância nas 289 unidades de conservação, esta a cargo do órgão recém-criado. Marina disse que, ao assumir o ministério, em 2003, havia 45 hidrelétricas contestadas na Justiça. "Hoje só existe uma". Insistiu que não deixará de criar o Chico Mendes só para se sentir confortável diante dos servidores. "Não busco popularidade imediata", desafiou ela.

Coube ao senador Jefferson Péres (PDT-AM) desmontar o argumento dos contrários à criação do Instituto Chico Mendes. Ele perguntou se os servidores de fato acreditavam no que estavam escrevendo, de que o desmembramento do Ibama vai representar a internacionalização da Amazônia. "Eu sou do Amazonas. Isso é um factóide barato, absurdo", disse Péres. O presidente da Associação dos Servidores do Ibama, Jonas Correa Moraes, tentou encontrar uma justificativa, mas não convenceu ninguém.

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Para piorar as coisas para os servidores, eles distribuíram entre os senadores pastas com as justificativas para sua greve, tentaram uma inovação e acabaram marcando um gol contra. No meio da papelada em que disseram ser a divisão do Ibama responsável pela quebra da unicidade da gestão ambiental federal, do aumento da burocracia e do abandono de centenas de projetos em execução no Brasil, puseram uma balinha da marca "xibiu", numa alusão ao apelido que deram ao Instituto Chico Mendes, de Chibio. A líder do PT, Ideli Salvati (SC), atacou: "Esse nome significa um palavrão em diversas regiões do País. É um desrespeito aos senadores", disse ela. Não houve nada que consertasse o estrago feito.