Gasolina, a vilã da inflação

Pressionados pela alta da gasolina, os preços administrados em Curitiba aumentaram 2,10% em março. A variação foi duas vezes e meia superior à inflação da capital paranaense no mês passado – de 0,84%, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) divulgado ontem pelo IBGE.

No ano, o custo dos serviços públicos com preços administrados por contrato e monitorados acumula incremento de 2,43% na capital paranaense. Nos últimos doze meses, o índice salta para 14,60%.

A “cesta” de serviços com preços controlados pelo governo para uma família curitibana custou R$ 331,90 em março – ante R$ 325,08 em fevereiro. Os cálculos foram divulgados ontem pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) e Senge/PR (Sindicato dos Engenheiros do Paraná). Dos quinze itens que integram o “pacote” de preços administrados, a gasolina subiu 9,96%, o diesel, 1,61%, e o álcool, 0,22%. As tarifas de água e esgoto tiveram reajuste médio de 6,06% em março.

Para encher um tanque com 40 litros de gasolina, o curitibano passou a gastar R$ 61,40 no mês passado, contra R$ 55,84 em fevereiro. A tarifa mínima de água e esgoto foi elevada de R$ 20,79 para R$ 22,05. De janeiro a março, o maior aumento percentual aconteceu com o gás de cozinha (14,78%), que subiu novamente em abril. De março de 2001 até março deste ano, o produto encareceu 47,40%, passando de R$ 17 para R$ 25,06.

Impacto

“Os preços administrados estão pressionando a inflação. De março para cá, principalmente a gasolina”, destaca o economista Cid Cordeiro, supervisor técnico do Dieese. Os combustíveis representam 10,44% do orçamento doméstico (sendo 1,42% de gás, 4,63% de ônibus urbano e 4,39% de gasolina). “Este aumento de 10% na gasolina significa impacto direto de 0,4 ponto percentual na inflação (IPCA)”, cita.

Embora o mercado aposte que a alimentação reduza o impacto da alta da gasolina na inflação deste mês, a expectativa é que o índice fique entre 0,5% e 0,6%, puxado pela elevação de 10,08% no preço da gasolina – cujo preço médio saltou de R$ 1,54 em março para R$ 1,70 – e de 14,5% no gás de cozinha, que passou a custar em média R$ 27,98 em Curitiba.

“O aumento da gasolina representa menos dinheiro no bolso para adquirir outros itens. Em Curitiba, é mais significativo do que no Rio e São Paulo, porque proporcionalmente usa-se mais carro que transporte coletivo, até porque este é muito caro (só perde para Brasília e São Paulo). Numa distância de até 8 quilômetros, sai mais barato usar o carro se não for preciso pagar estacionamento”, considera o presidente do Senge/PR, Carlos Roberto Bittencourt.

Instabilidade

O presidente do Senge/PR critica a política de preço da gasolina adotada pela Petrobras, com possibilidade de reajustes quinzenais. “Na nossa avaliação, o prazo de quinze dias é muito pequeno. Quando o governo anunciou que a gasolina iria baixar, levou até 60 dias para chegar ao consumidor. O aumento chega em 2, 3 dias, criando uma oscilação muito grande no mercado”, opina.

“A oscilação tanto para cima quanto para baixo prejudica a economia, traz instabilidade para a inflação e afeta a taxa de juros do BC”, concorda Cordeiro. “Ao definir essa fórmula de reajuste para os combustíveis, o governo subestimou o impacto na economia. Pensou nos 400 mil acionistas da Petrobras, esquecendo dos 150 milhões de brasileiros”, alfineta.

Acima da média

Com variação de 0,84%, o IPCA (que mede o custo de vida para famílias com renda mensal entre um e quarenta salários mínimos) de Curitiba em março foi o terceiro mais alto do País, acima da média nacional de 0,60%. No ano, o acumulado é de 1,79%, contra 1,49% de média brasileira. Já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) – que indica a inflação para as famílias com renda entre um e oito salários mínimos – da capital paranaense foi de 1,08% em março, o terceiro maior do País. No ano, o INPC acumulado em Curitiba é de 2,40%.

Meta com FMI está ameaçada

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 0,60% em março, o topo das previsões do mercado. O percentual é o maior no mês desde março de 1999 e a mais alta taxa mensal desde dezembro do ano passado. Os principais impactos foram dados pelos reajustes na gasolina, energia elétrica e produtos farmacêuticos que, juntos, responderam por metade (0,30 ponto percentual) da taxa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em fevereiro, o índice, que é referência da meta de inflação acordada pelo governo junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) – 3,5% para este ano, com intervalo de dois pontos percentuais para cima ou para baixo – havia atingido 0,36%. No ano o IPCA já acumula alta de 1,49% e nos últimos 12 meses, de 7,75%. Os resultados do mês ampliaram ainda mais a expectativa do mercado em relação à inflação de abril, que sofrerá impacto ainda maior do reajuste da gasolina. O combustível, que teve alta de 4,16% em março, deu a principal contribuição (0,15 ponto percentual) para a inflação do mês.

As outras contribuições mais significativas para a inflação do mês: água e esgoto (1,47%) e ônibus urbanos (0,61%). Nos produtos alimentícios (cuja variação passou de 0,20% em fevereiro para 0,39% em março), a principal alta ocorreu no leite pasteurizado (4,79%).

Quanto à inflação acumulada no primeiro trimestre do ano, o maior aumento ocorreu no gás GLP, com alta de 15,95%. Outros aumentos significativos no trimestre foram: alimentação (1,44%), água e esgoto (3,44%), mensalidades escolares (6,88%), energia elétrica (7,08%), artigos de limpeza (4,09%), ônibus urbanos (2,81%) e remédios (4,18%).

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