?Fui obrigado a entrar em acordo com eles?, diz vítima de acidente do metrô

Antonio Manuel Dias Teixeira não estava em casa no dia em que uma cratera se abriu no canteiro de obras da Estação Pinheiros de metrô de são Paulo, mas sua mulher, um ano depois do acidente, ainda não conseguiu apagar as imagens daquele dia.

No dia 12 de janeiro, Dirce Chiara, de 51 anos, estava em seu apartamento, na Rua Gilberto Sabino, 170, a cerca de 20 metros do local de onde ocorreu a tragédia. ?Ela estava sozinha quando tudo começou a acontecer?, conta o marido Antonio Manuel Dias Teixeira, que era síndico do prédio de oito apartamentos na época do acidente.

?Quem deu o sinal do acontecimento para ela [Chiara] foi a minha cachorra. Minha cachorra [da raça] poodle, que não é de latir, começou a latir e correu para a porta do apartamento. Minha mulher entendeu que a cachorra estava avisando que havia alguém [estranho] no prédio e, com medo, trancou a segunda fechadura?, relembra Teixeira.

O que aconteceu, momentos depois, nunca mais foi esquecido. ?O prédio começou a tremer, os prédios vizinhos também começaram a tremer e houve gritaria na rua. Foi quando ela [Chiara] entrou em trauma e não conseguiu abrir a fechadura para sair do prédio?, conta.

A mulher de Teixeira e outra moradora eram as únicas pessoas no prédio no momento do acidente e só não morreram, disse o corretor, porque a grua,  equipamento utilizado nas obras, não caiu. ?Se a grua caísse, iria partir o prédio em dois?.

Chiara conseguiu sair do prédio e foi socorrida por paramédicos, mas ainda hoje tem dificuldades para dormir e precisa de tratamento  com psicólogos e psiquiatras e até de um cardiologista. Os gastos com esses profissionais são pagos pelo marido e não pelo consórcio responsável pela obra.

Teixeira, a mulher e os dois filhos, além de mais duas famílias também atingidas pelo acidente, moraram em quartos de hotéis até o dia 24 de dezembro do ano passado. ?Fui obrigado a entrar em acordo com eles. Não quis brigar na Justiça. Preferi aceitar?, contou. Uma única família, também moradora do mesmo prédio e que não gosta de dar entrevistas, ainda vive no hotel, mas a expectativa é de que também feche acordo com o consórcio ainda neste mês.

?Ou você aceita a proposta ou você vai para a Justiça. E você sabe que se for para a Justiça, é um processo [que demora] de cinco a dez anos. E eu tenho 54 anos. Não vou ficar brigando na Justiça?.

Ele disse que o pagamento da indenização estava previsto para o dia 4 de janeiro, mas somente uma parte do valor foi depositado na sua conta até o momento. Além do pagamento da indenização pela consórcio, Teixeira ainda espera ser indenizado pela prefeitura, que vai demolir o prédio.

O acordo de indenização dele com o consórcio foi fechado no dia 21 de dezembro e, três dias depois, Teixeira e a família foram obrigados a deixar o quarto do hotel onde viveram todo o ano. O corretor, que era proprietário do imóvel onde morava, diz que vive hoje em um apartamento mobiliado, mas alugado. ?Depois de 25 anos em que eu tinha aquele apartamento, comprado com muita luta e sem nunca pagar aluguel desde que me casei, hoje sou obrigado a pagar R$ 1,1 mil por mês [de aluguel]?.

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