França não explica vexame no País

Paris – A França está procurando evitar um duplo incidente diplomático com o Brasil e a Colômbia, após a tentativa malograda de libertar, por uma negociação direta com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), a ex-candidata à presidência colombiana Ingrid Betancourt, que também tem nacionalidade francesa. Os insistentes desmentidos de Paris e do próprio embaixador francês no Brasil, Alain Rouquié, de que uma operação fora montada a partir de Manaus, no Brasil, onde aterrissou um avião Hércules, não foram suficientes para dissipar as fortes dúvidas, que levaram o chanceler Celso Amorim a chamar ao Itamaraty o representante diplomático francês.

Em Paris, uma fonte diplomática brasileira afirmou que em nenhum momento foi informada da partida dessa “missão diplomática” francesa para a Amazônia. Até agora, a representação brasileira vinha acompanhando à distância e pela imprensa as informações sobre a presença dessa missão e nenhuma iniciativa chegou a ser adotada. O jornal Le Monde, em artigo de primeira página na edição de ontem sob o título, “Na Amazônia, uma esquisita operação francesa para liberar Ingrid Betancourt”, afirma que o governo francês enviou a Bogotá seu ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, apontado como um excelente negociador.

Sarkozy, oficialmente, partiu para Bogotá para tratar de um acordo de cooperação entre a Colômbia e três países europeus, França, Espanha e Grã-Bretanha, cujo objetivo é combater o trafico de drogas para a União Européia. Nem bem chegou na capital colombiana, o ministro se reuniu com os familiares de Ingrid, entre eles sua irmã Astrid.

O ativo ministro francês deixou claro à família Betancourt que “a libertação de Ingrid continua sendo uma prioridade do governo francês, mas quanto menos se falar, melhor será”. A ex-candidata colombiana não tem parentesco com a maior fortuna francesa, Lilianne Betancourt, principal acionista do grupo L?Oreal.

A operação de natureza sigilosa previa o envio de um avião Hércules C-130 que aterrissou em Manaus, segundo revelou a revista brasileira Carta Capital, informação posteriormente confirmada pelo embaixador francês em Bogotá, Daniel Parfait. O avião transportava diplomatas, entre eles, Pierre Henri Guignard chefe de gabinete adjunto do ministro Dominique de Villepin, o que indica que a decisão foi adotada na mais alta hierarquia. O presidente Jacques Chirac estaria informado da operação, apresentada como “humanitária”.

O problema é saber até onde o governo brasileiro estava informado da operação, especialmente da passagem do Hércules por Manaus, e da presença de Astrid, irmã de Ingrid, em Letícia, cidade na fronteira com a Colômbia.

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