Ex-secretário denuncia corrupção no governo Lula

Salvador  – Dois dias depois de deixar o cargo sob a acusação de contratar a atual e a ex-mulher, o ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares partiu para a ofensiva ontem. Em entrevista ao GLOBO, ele acusou dois servidores da secretaria ligados ao PT de envolvimento num esquema de corrupção. E atribuiu a esses funcionários a divulgação de um dossiê que o levou a deixar o posto.

O ex-secretário disse que tem provas, obtidas pelo serviço de inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), que revelam ligações escusas entre os dois funcionários e empresas interessadas em vencer licitações de projetos patrocinados pelo Fundo Nacional de Segurança Pública nos Estados. Ele não quis revelar os nomes dos servidores, mas disse que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos foi informado e deve exonerá-los. O ministro não quis se pronunciar.

Em Salvador, onde deu palestra no 18º Congresso de Magistrados Brasileiros, Luiz Eduardo afirmou que os servidores iniciaram a trama para tentar derrubá-lo quando souberam que ele suspeitava que a dupla estava planejando fraudes em concorrências e mandara investigar.

A partir de documentos do dossiê surgiu a denúncia de que Luiz Eduardo contratara sua mulher, Miriam Guindani, e a ex-mulher, Bárbara Soares, para prestar serviços à Senasp. O episódio o levou a pedir demissão na terça-feira.

Ao defender as contratações, ele afirmou que sua atual mulher e a ex são profissionais competentes que trabalham com ele há muitos anos e, por isso, foram chamadas a prestar serviço à secretaria.

Cargo

Ele afirmou que, se voltar a ocupar um cargo público, as contratará novamente. “São profissionais que têm trajetória, competência. Não há nada a esconder. Faria de novo e vou fazer de novo se tiver oportunidade de estar em algum cargo público. E faria publicamente, deixando isso cada vez mais explícito e transparente”, disse.

Ele afirmou que deixou o cargo para poupar o governo de desgastes políticos. “Se houvesse qualquer má intenção, qualquer intenção de ocultar a participação dessas pessoas, teria sido muito fácil. É muito comum que se utilizem laranjas e nomes de terceiros para que os nomes efetivos não apareçam. Mas esses nomes foram explicitados no Diário Oficial”, declarou ao fim da palestra em que se disse injustiçado pela mídia no episódio.

Polícias

Frustrado por ter sido obrigado a deixar o governo quando o projeto do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) estava prestes a ser implantado, o ex-secretário revela que o governo tem planos de mexer num tema polêmico: tirar as polícias do texto da Constituição. A medida, que tornará mais fácil a montagem de um sistema mais moderno para combater o crime, será negociada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os 27 governadores.

João Paulo defende Planalto

Brasília 

– O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), reagiu ontem às críticas de que o governo Luiz Inácio Lula da Silva estaria gastando recursos públicos demais com viagens internacionais. Segundo João Paulo, as viagens são importantes para que o governo e os parlamentares brasileiros se relacionem com o mundo, mas afirmou que elas precisam trazer resultados positivos.

João Paulo disse, no entanto, que se a viagem não traz benefícios para o País o funcionário público deve devolver o dinheiro gasto e a imprensa deve denunciar mesmo. “Tudo o que for abuso no governo anterior, neste governo e em governos futuros tem que ser denunciado. Abuso é abuso em qualquer governo, em qualquer partido e tem que ser denunciado”, afirmou.

Devolução

Sem citar o nome do ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz, que participou dos Jogos de Santo Domingo com despesas pagas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e recebeu diárias do governo, conforme denúncia veiculada ontem pela imprensa, João Paulo disse que, se “o sujeito ganhou duas diárias e usou uma só ele tem que devolver o dinheiro”.

Indagado sobre a viagem de parlamentares brasileiros para participar da assembléia da ONU, na semana que vem, o presidente da Câmara disse que o Legislativo brasileiro precisa se relacionar com a ONU, que tem o maior parlamento do mundo, segundo ele. “O que as pessoas querem, que o Brasil não se relacione com o mundo, não tenha contatos? Nós temos que ver se a viagem é produtiva e se tem razão de ser”, afirmou o presidente da Câmara na entrevista aos jornalistas.

Líder afirma que não quer diárias

Brasília

(AG) – O líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira (CE), que integrará a comissão de parlamentares brasileiros na assembléia da ONU, anunciou que as despesas de sua viagem não serão pagas pela Câmara. “Não é demagogia, é porque eu já tinha outro convite, já vou estar lá e não tem sentido ficar com as diárias”, disse. Segundo o peemedebista, é natural que o governo faça muitas viagens internacionais até por ser um governo novo, mas afirmou que é preciso critérios mais fortes e mais firmes na relação com dinheiro público.

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