Eleição no Congresso azedou a reforma de Lula

Brasília – Depois de duas horas de reunião com dirigentes do PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou que só pretende deflagrar a reforma ministerial depois da eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, no dia 14. Lula acredita que antecipar a definição dos novos ministros pode atrapalhar a eleição do petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) para a presidência da Câmara e do pemedebista Renan Calheiros (AL) para o Senado.
 
Segundo Calheiros, Lula deixou claro que pretende prestigiar o PMDB, dando ao partido um ministério com maiores recursos, como a pasta de Cidades, hoje com o petista Olívio Dutra, ou Integração Nacional, ocupada por Ciro Gomes, do PPS. Nesse caso, o partido manteria os Ministérios das Comunicações e da Previdência Social, e a terceira pasta iria para a senadora Roseana Sarney, que deixaria o PFL para entrar no PMDB. O partido deseja ainda ocupar o comando de pelo menos uma estatal, preferindo a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero).

"A conversa não foi conclusiva, mas tive a impressão que o presidente Lula já tem na cabeça a reforma ministerial que quer fazer", afirmou Calheiros, depois do encontro com o presidente. Além de trabalhar nos bastidores para ter a presidência da Infraero na reforma ministerial, o PMDB movimenta-se até para ganhar cargos que nem sequer foram criados, como uma nova diretoria da Petrobras no segmento de gás.

Um interlocutor de Lula explica que o PMDB passou a sonhar com o controle da distribuição de gás líquido no País desde que foi informado de que o governo quer intensificar o uso deste combustível, assim que entrar em operação, na Bacia de Santos, a maior reserva de gás descoberta em território nacional. Mas o interesse do partido pelo cargo é pragmático: a cúpula peemedebista já sabe que a nova diretoria vai administrar um orçamento mais gordo do que o da maioria dos ministérios, movimentando recursos na faixa do bilhão de reais.

Na verdade, o partido já fincou pé na Petrobras desde a reforma ministerial realizada há um ano, quando o ex-senador Sérgio Machado ganhou a presidência da Transpetro. Agora, Calheiros pode apadrinhar o novo diretor da Petrobras. Segundo um peemedebista que acompanha cada lance das negociações entre o partido e o Planalto, o nome mais cotado nos bastidores para ocupar o cargo é Henrique Melo, que já dirigiu as companhias de eletricidade do Espírito Santo e de Alagoas e, atualmente, trabalha com Machado na Transpetro.

A iniciativa da reunião com o PMDB foi de Lula, que na semana passada propôs ao presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), e a Calheiros, que se encontrassem para falar de reforma ministerial. Além de Sarney e Calheiros, também participou do encontro o líder na Câmara, José Borba (PR). O deputado, porém, só foi convidado à última hora. A reunião já havia sido confirmada aos dois senadores desde a véspera, pelo próprio Planalto, mas o convite não incluíra Borba.

Assim que soube da exclusão, ainda na noite de quarta-feira, o deputado tratou de avisar aos convidados do Senado que a bancada da Câmara não acataria nenhum eventual acerto com o Planalto, se não tivesse um representante seu na conversa de ontem.

Como o aviso incluía não só a reforma ministerial como os interesses do governo na eleição do candidato oficial do PT à presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), Sarney movimentou-se para contornar o incidente.

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