São Paulo

(Das agências) – Pelo menos três publicações estrangeiras importantes abordaram ontem o fenômeno Lula no Brasil. A edição virtual do Der Spiegel, maior semanário alemão, comparou Lula a Ronaldo, dizendo que o primeiro é “o pior atacante do Brasil”, ao contrário do segundo. O New York Times mostra ceticismo quanto à forma moderada com a qual o PT se apresenta e, finalmente, o Financial Times escreve sobre as relações entre um eventual governo do PT e o FMI.

A revista Der Spiegel publica artigo de Thomas Hillenbrand em que faz uma comparação entre Lula e Ronaldo. Enquanto o jogador fez dos brasileiros os reis do mundo, por alguns dias, sobre Lula diz que “um único político poderia causar agora uma total derrocada econômica”. A revista chega a dizer que a vitória na Copa pode ter sido “a última grande festa do Brasil”. E escreve que o Brasil já “desliza dia após dia cada vez mais profundamente na crise econômica,que poderia terminar numa expulsão coletiva e a insolvência do maior país sul-americano”. Hillenbrand diz que Lula espalha medo e pavor, chamando-o de “terror das Bolsas”. A revista admite que o temor a Lula chegou a formas grotescas. “O mercado quase enche as calças, quando Lula sobe 1% nas pesquisas eleitorais”, publica a Der Spiegel.

Já o New York Times traz uma reportagem assinada por Larry Rohter, a partir de São Paulo, em que compara o início da carreira de Lula, quando sua voz era ríspida e sua barba e cabelo descuidados. Nesta época, Lula fazia campanha com camiseta e alertava: “Hoje não estou de bom humor”. O Lula de hoje é à favor de elegantes ternos sob medida e se esforça para sorrir para as platéias. Mas o mercado continua com medo. “Lula diz que suas visões socialistas evoluíram e abrandaram. Mas os investidores estrangeiros e a classe média brasileira, cujos votos ele precisará para vencer, continuam se perguntando se a mudança é só fachada”, prossegue. Afinal, diz, “o seu partido é uma aglomeração esquerdista irascível, que vai desde a facção trotskista impenitente, apelidada de “xiitas”, até um grupo de socialistas ao estilo europeu chamado de ala “rosa”.

O jornal observa, ainda, que Lula continua a apoiar o arqui-inimigo dos Estados Unidos, Fidel Castro. E cita um discurso feito no final do ano passado em Cuba, em que Lula deixou claro que continua a apoiar o presidente cubano e seu governo ditatorial. “Obrigado, Fidel Castro, obrigado por existir”, disse Lula. “Apesar de seu rosto estar marcados por rugas, Fidel, sua alma permanece intacta porque você não traiu os interesses de seu povo”. Já Raymond Colitt, do Financial Times, se concentra nas pouco satisfatórias relações entre os responsáveis pela formulação ecônômica do PT e o FMI. O jornal inglês acredita que apesar das críticas e declarações, um eventual governo petista poderá manter diálogo com o fundo.

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