Dois mortos e 45 feridos em reintegração de posse

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Policiais atiram em invasores
durante desocupação.

Goiânia – Duas pessoas morreram e pelo menos 45 pessoas ficaram feridas, quatro em estado gravíssimo, ontem, na desocupação de uma área de 1,3 milhão de metros quadrados, no Parque Oeste Industrial, em Goiânia. A Polícia Militar precisou de três horas para tirar do terreno, ocupado havia nove meses, as 2.862 famílias de sem-teto, segundo o governo do Estado, ou 4 mil famílias segundo os líderes dos invasores. A operação empregou 2 mil policiais. "Os dois mortos foram atingidos na região do tórax por arma de fogo", disse o diretor do Hospital de Urgências de Goiânia, o médico Lucino Sardinha. "Algumas pessoas chegaram ao hospital por conta própria, feridas a bala, e não se identificaram com medo de serem presas."

A operação de reintegração de posse, determinada pelo juiz Sérgio Divino de Carvalho, da 10.ª Vara Cível, começou às 9h, com a chegada de 500 soldados do Batalhão de Choque. Com uma retroescavadeira, demoliram um muro nos fundos do terreno e surpreenderam os invasores, que esperavam um ataque frontal. Tiros, fumaça de pneus queimando, foguetes e gritos provocaram tumulto, mas não impediram que os policiais ocupassem as ruas do Parque Oeste Industrial, invadissem as casas e abrissem brechas para a fuga de mulheres e crianças. Quem saía, carregava roupas, TVs e alimentos. "Aquilo parecia o inferno, tiro para todo lado, gritos, desespero", disse a sem-teto Marinês Mendes de Aquino, que já contava com a criação do bairro Sonho Real na área invadida. Cerca de 800 pessoas foram levadas para o 7.º Batalhão da PM. "Para averiguação ou por crime de resistência, desobediência à lei e incitação ao crime", explicou o tenente-coronel Antônio Carlos Elias. "Recolhemos facas, enxadas revólveres, munição, estilingues e botijões de gás." O promotor Maurício Nardini, que filmou e fotografou toda a operação, afirmou que "todo abuso de autoridade será a purado". O principal líder dos sem-teto, Américo Rodrigues Novaes de 36 anos, foi preso longe das barricadas de resistência, montadas com pneus e arame farpados, e não resistiu à prisão. "A operação foi um sucesso", disse o coronel Marciano Queiroz, comandante da PM. Depois da desocupação, os barracos foram destruídos.

MP quer informações

Brasília – A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) do Ministério Público Federal está levantando informações sobre as ações que culminaram na morte de duas pessoas durante a reintegração de posse do Parque Oeste Industrial, realizada na manhã de ontem, em Goiânia, pela Polícia Militar. Além da representante da Procuradoria Ella Castillo – que também faz parte do Conselho dos Direitos da Pessoa Humana -, representantes estaduais estão apurando o caso. Ella Castillo acompanha o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), Nilmário Miranda, que embarcou ontem para Goiânia. Castil -lo esteve no Instituto Médico Legal (IML) onde foram examinados os corpos das duas pessoas que morreram durante a operação.

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