Dívida social do Brasil soma US$ 2,66 trilhões

São Paulo – A exclusão social no Brasil cresce a cada dia e o País precisa investir cerca de 2,66 trilhões de dólares até 2020 para superar as desigualdades, segundo um estudo publicado ontem. A conclusão está no Atlas da Exclusão Social, elaborado por 17 professores e pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp) e Ponti-fícia  Universidade Católica de São Paulo (PUC).

Os especialistas indicaram que o País está longe até de alcançar níveis medianos de inclusão social. ?O tamanho da dívida social do Brasil chega hoje a 7,2 trilhões de reais (2,66 trilhões de dólares). Se esses recursos não forem investidos, o País corre o risco de chegar a 2020 em uma situação pior do que hoje?, disse o economista Marcio Pochmann, na apresentação do relatório.

Para se ter uma idéia da magnitude da tarefa, essa quantia é superior ao déficit público de US$ 2,29 trilhões que o governo dos Estados Unidos calcula que acumulará no período de 2005 a 2014. Na elaboração do relatório, os especialistas analisaram os indicadores nacionais de educação, saúde, habitação, cultura, inclusão digital, pobreza, ?trabalho decente? e previdência social, e os compararam com os de países medianos e avançados.

Segundo o documento, o governo investe anualmente o equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do País em programas sociais, mas para ficar à altura dos países avançados necessita destinar a essa área cerca de 47,6% do PIB durante vários anos. Em educação, seriam necessários, por exemplo, investimentos de R$ 1,71 trilhão durante os próximos 16 anos, a fim de conquistar um ensino do alcance e da qualidade do Chile, país considerado avançado nesse setor.

Para que a saúde tenha o nível de países como Canadá ou Espanha, o Brasil necessitaria investir R$ 709,4 bilhões entre 2005 e 2020, enquanto que para reduzir a pobreza aos níveis da França faltariam R$ 1,61 trilhão.

Governo ignora metas sociais

São Paulo – Os autores do Atlas da Exclusão Social consideram que, embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha prometido reduzir as ?monstruosas? desigualdades sociais do País, na primeira metade de seu mandato os avanços foram poucos, porque o modelo econômico vigente privilegia as metas fiscais e de inflação e ignora as sociais. ?A partir da segunda metade do século XX houve um investimento em prioridades dos governos brasileiros que privilegiaram as políticas econômicas em detrimento das sociais?, opinou Pochmann.

Para o economista Alexandre Barbosa, Lula fez mudanças importantes em algumas áreas, como na política externa, ?mas na política econômica não alterou nada e foi até o limite do modelo vigente, o que lhe deixou pouca margem de manobra no social?.

Os autores do relatório consideram que por mais que alguns estudos internacionais situem o Brasil na condição de potência econômica mundial nas próximas décadas, a situação social do País continuará piorando se não se trabalhar por uma melhor distribuição da renda. ?O Brasil pode chegar a 2020 como uma economia avançada, como grande exportador de produtos agrícolas e um grande receptor de investimentos externos, mas seguirá sendo um barril de pólvora social se não combater as desigualdades?, previu Barbosa.

Os especialistas apontaram que a tarefa de combater a exclusão social e de construir um País mais justo necessita de menos retórica por parte dos governantes e de um amplo pacto político que inclua os distintos setores da sociedade.

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