Dirceu manda FHC cuidar dos livros e dos netos

Oviedo – A declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de que “falta imaginação” para o governo Lula decolar recebeu ontem uma dura resposta do chefe da Casa Civil da Presidência da República, ministo José Dirceu. Mesmo longe do Brasil, o ministro aproveitou uma conversa com jornalistas para criticar as palavras de Fernando Henrique. “Ex-presidente da República tem de cuidar da biblioteca, de quando foi presidente, da memória da sua presidência, dos netos. E também pode fazer política, mas sem ressentimento”, afirmou José Dirceu.

O ministro foi além. Pediu paciência a Fernando Henrique e disse que este não conseguiu, em oito anos de governo, realizar as principais ações já conduzidas pelo presidente Lula. “Ele teve oito anos para fazer reforma previdenciária e tributária; não fez. Teve oito anos para aprovar a Lei de Falências; não aprovou. Teve quase seis anos para unificar os programas sociais; não unificou. Teve muito tempo para fazer muita coisa. Agora, ele tem que ser tolerante, democrático, tem que esperar pelo menos a metade (do mandato) do presidente Lula”, enfatizou.

Dirceu também contestou o PSDB. Segundo ele, o partido é que não teve criatividade para ficar no comando do País por dois mandatos consecutivos. “Em matéria de criatividade e de imaginação, os tucanos, até porque não voam, não são autorizados a fazer falação sobre o assunto. Até porque eles tiveram um longo tempo para governar o Brasil e, em matéria de imaginação e criatividade, se nós fizermos com bastante benevolência um balanço, vamos ver que o vôo foi mais de galinha do que de águia”, criticou.

Na opinião do ministro, o ex-presidente Fernando Henrique deve deixar a população brasileira fazer suas próprias avaliações sobre o governo Lula. As criticas de FHC foram divulgadas através de uma entrevsita ao jornal espanhol El País, ao qual o ex-presidente diz que falta ao governo Lula “uma política social inovadora”. FHC afirma que se sente surpreso pela “falta de imaginação” de Lula e criticou que não exista uma “política social inovadora, nem coordenação administrativa. Pensei que tivesse um projeto para o país diferente do meu. Vejo que não”, disse.

FHC disse que tinha dúvidas sobre Lula em relação à “questão financeira, o controle da inflação e o pagamento da dívida”, mas admitiu que o Governo atual agiu “de forma responsável” nesses temas”.

Reforma

A tão esperada reforma ministerial do governo Luiz Inácio Lula da Silva só deve sair do papel no final de 2003. A expectativa é do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Segundo ele, Lula já deixou claro que só vai discutir mudanças em seu ministério depois da votação das reformas no Congresso, do envio do projeto de lei sobre os transgênicos e da definição do governo sobre as agências reguladoras.

Lula pede fim das desigualdades

Oviedo

– O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender ontem, na Espanha, maior participação dos líderes mundiais no combate à fome e à pobreza. Em discurso durante visita ao parlamento do Principado de Astúrias, no Norte do país, o presidente disse que os “famintos” são hoje um problema social, mas que a fome deve se transformar em uma questão política. “Apenas quando a fome se transforma em um problema político nós prestamos atenção”, ressaltou.

Lula discursou para deputados e senadores do norte da Espanha e disse que chegou a pensar, no início de sua luta sindical, que a fome era uma espécie de “castigo” bem aplicado para povos que nao se empenhavam em lutar para sobreviver. Agora, garantiu, esse conceito se inverteu completamente. “Depois descobri que a fome não leva nenhum povo à revolução, mas à submissao”, enfatizou.

O presidente admitiu que a luta contra a fome nao é fácil, especialmente no Brasil. Mas disse que assumiu essa responsabilidade e, por isso, o prêmio Príncipe de Astúrias que recebeu na noite de ontem pertence a todos os brasileiros que lhe elegeram presidente. “Pensei: o que fazer com um prêmio desses? Por isso tomei a decisão de doá-lo e entreguei ao secretário-geral da ONU o cheque”, disse. O prêmio é de US$ 55 mil.

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