Dirceu estuda renúncia coletiva do ministério

Brasília  – O “fogo amigo” começa a consumir o governo, que vive dias de tensão pré-reforma ministerial. As divergências afloram e a intriga toma conta da Esplanada dos Ministérios.

Para facilitar a difícil tarefa do presidente, que terá de demitir alguns amigos de longa data e substituir velhos aliados para acomodar os novos, o núcleo do governo – liderado pelo ministro da Casa Civil, José Dirceu – já estaria articulando uma renúncia coletiva da equipe. A idéia é evitar para o presidente o constrangimento de ter de demitir os ministros.

Outra preocupação do governo e dos partidos da base é a de preservar, na medida do possível, a imagem daqueles que perderem suas vagas. O PL, por exemplo, já garantiu uma saída honrosa para seu único representante: o ministro dos Transportes, Anderson Adauto. Diante da pressão da bancada para que ele seja substituído, a cúpula do partido o orientou a se antecipar.

Na semana passada, Adauto procurou o presidente para avisá-lo que pretende disputar a Prefeitura de Uberaba (MG), no ano que vem, e que, por isso, estaria deixando o cargo. Mas Lula teria pedido para que ele aguardasse até a reforma ministerial. Os liberais, contudo, não abrem mão de permanecer com a pasta e já teriam o nome do substituto: o prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento, que está em seu segundo mandato.

Lula teria pedido a Dirceu que se dedique à reforma administrativa, que deverá reduzir o número de pastas na Esplanada dos Ministérios, transformando algumas delas em secretarias. O presidente pediu, no entanto, que Dirceu monte vários cenários e hipóteses para acomodar o PMDB.

Denúncias

Mas há outro problema que está preocupando o governo e que pode acelerar a reforma ministerial: o fato de que vários integrantes da equipe ministerial vêm sendo alvos de denúncias de corrupção ou, então, protagonizando escândalos na imprensa que contribuem para prejudicar a imagem do Palácio do Planalto – e, por extensão do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A dúvida é saber quando este processo de reforma ministerial será iniciado.

Privilégios para primeiro escalão no Orçamento

Brasília

(AG) – Na manhã da sexta-feira, o Ministério da Integração Nacional liberou, segundo registros do Sistema Integrado de Acompanhamento Financeiro (Siafi) do governo federal, R$ 12,5 milhões. Tudo para o Ceará, Estado que foi governado pelo, hoje, ministro Ciro Gomes (PPS). Do total, R$ 6,5 milhões são para o Canal do Trabalhador, obra iniciada no governo de Ciro e, na época, cartão-postal de sua administração. Outros R$ 3 milhões são para a Barragem de Arneiroz.

Com esses e outros exemplos, por coincidência ou não, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva se arrisca a repetir a prática que os petistas tanta condenavam nas administrações anteriores: o favorecimento do reduto eleitoral do titular do ministério.

Até agora, na execução orçamentária deste ano, o Ceará consumiu R$ 16,139 milhões dos R$ 27 milhões liberados pelo Ministério da Integração para investimentos. O total de recursos destinados ao Estado nesta rubrica é praticamente o triplo do aplicado em Tocantins, o segundo do “ranking”, com R$ 6,3 milhões. Na lista dos beneficiados, Pernambuco fica com R$ 2,3 milhões, seguido da Bahia, com R$ 2,1 milhões. Além desses quatro Estados, Minas e Alagoas são os outros únicos a receber investimentos do ministério. São tímidos R$ 86,2 mil para Minas e apenas R$ 77,7 mil para Alagoas.

Ciro diz que Lula definiu prioridades

Brasília

(AG) – O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, diz que as prioridades fixadas para sua pasta obedecem a uma determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a de finalização de obras perto de sua conclusão. Pela explicação do ministro, o favorecimento do Ceará, seu domicílio eleitoral, com recursos federais, não passa de coincidência. “As prioridades do ministério foram determinadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E correspondem exclusivamente à decisão de concluirmos as obras já iniciadas”, disse.

Na Integração Nacional, a primeira obra retomada, ainda com a liberação dos chamados restos a pagar (despesas previstas no orçamento passado), foi a construção da Barragem do Castanhão, no Ceará, para a qual foram destinados cerca de R$ 18 milhões. Segundo Ciro, para eleger suas prioridades, a Integração Nacional fez um levantamento das obras em andamento em todo o País. “Não foram obras iniciadas por mim. Estou cumprindo a programação”, disse.

A assessoria do Ministério dos Transportes argumenta que o Estado de Minas detém a maior malha viária do Brasil, com 22% de toda a estrutura nacional. Além disso, as rodovias dos estado estariam em péssimo estado de conservação. A situação estaria igualmente grave na Bahia e em Mato Grosso.

Investimentos

Ainda segundo o Ministério dos Transportes, a Bahia tem a segunda maior malha viária do País. Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), a Bahia recebeu R$ 1,8 milhão de investimentos do Ministério dos Transportes. Para Mato Grosso – também com estradas em péssimo estado de conservação – o volume de recursos foi de R$ 2,1 milhões.

Estado de Goiás é o 2.º na lista

O segundo lugar no “ranking”, o Estado de Goiás, foi beneficiado com R$ 7,4 milhões. Dono da segunda maior malha rodoviária do país, atrás de Minas apenas, a Bahia ficou com R$ 1,8 milhão. Terceiro em estrutura rodoviária, o Rio Grande do Sul obteve R$ 5,2 milhões. Para o Rio de Janeiro, foram R$ 851,9 mil. Para o Acre, R$ 31,2 mil. Até agora, São Paulo recebeu R$ 1,7 milhão do orçamento de investimentos deste ano do Ministério dos Transportes.

O Estado de Minas foi também o maior beneficiário dos recursos do Ministério dos Transportes no pagamento das contas herdadas do governo passado, os chamados “restos a pagar”. De R$ 200 milhões distribuídos para os estados, R$ 55,8 milhões foram para o estado natal de Adauto. A Bahia, segundo os dados do Siafi, ficou com R$ 7,1 milhões. O Rio, com R$ 2,2 milhões.

Até agora, o Departamento de Estradas e Rodagem (DER) de Minas recebeu R$ 62,9 milhões. O de São Paulo, apenas R$ 2 milhões.

Reduto eleitoral do ministro Cristovam Buarque (PT), no levantamento do Siafi o Distrito Federal – com R$ 4,5 milhões – é o terceiro em investimentos do Ministério da Educação, atrás de Minas e do Rio Grande do Sul. Na lista, São Paulo aparece com R$ 464,1 mil.

Já o Rio Grande do Sul, terra natal de Olívio Dutra (PT), consumiu R$ 4,5 milhões de recursos liberados pela Caixa Econômica no Ministério das Cidades. O Rio de Janeiro ficou com muito menos: R$ 1,7 milhão.

Concentrados nos investimentos (obras e novos projetos) dos ministérios por Estados, esses números excluem as despesas de caráter continuado, como a compra de merenda escolar, e os gastos que o ministério distribui livremente, sem identificação do Estado de destino.

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