Quase cinco meses depois de deixar a Casa Civil, o deputado José Dirceu (PT-SP) está cada vez mais convencido de que não terá mesmo a solidariedade do governo no processo por quebra de decoro parlamentar que deve resultar na cassação do mandato dele. Dirceu reuniu vários exemplos dessa falta de apoio. Um que considera dos mais marcantes foi a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara que decidiu pela continuidade do processo. A administração federal tem ampla maioria na CCJ, mas isso de nada adiantou. O parecer do deputado Darci Coelho (PP-TO), que opinava pelo fim da ação, foi derrotado por 39 votos a 15 na sessão realizada há 20 dias.
No relatório, Coelho considerava o processo extinto – visto que o PTB, o autor, o havia retirado. ?Eu não esperava que o governo fosse ajudar porque o presidente da República tem muita coisa com que se preocupar. Mas não esperava que fosse atrapalhar?, afirmou Dirceu, logo depois da decisão da CCJ. Entre os aliados, votaram contra ele 17 deputados da base do Poder Executivo, tendo à frente o deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), presidente da CCJ.
Para piorar a situação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na entrevista de ontem para o Roda Viva, da TV Cultura, que ele será mesmo cassado, num processo de resultados políticos. Dirceu não quis comentar a afirmação de Lula. Preferiu primeiro ver a entrevista.
Outro fato que levou o deputado do PT de São Paulo a constatar que não terá nenhuma ajuda do Executivo foi a tentativa de acordo do Palácio do Planalto com o PSDB para controlar a crise política. Por esse entendimento, a cabeça de Dirceu seria entregue para a cassação e o PT não insistiria em envolver com o esquema do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
Segundo o entendimento do deputado do PT, a combinação foi feita tendo como avalista do Planalto o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Acontece que nada deu certo porque, há cerca de 20 dias, a Revista IstoÉ publicou a notícia de que, em 2002, Valério pagou uma dívida de Azeredo. ?Fizeram um acordo e não falaram comigo?, afirmou Dirceu a amigos. ?Tive de trabalhar contra.? Ficou no ar a suspeita de que foi o deputado quem vazou o documento contra o senador do PSDB de Minas Gerais. Dirceu jura que não teve nada a ver com isso.
