Dirceu cede para atrair PMDB à base do governo

Brasília

  – Ao mesmo tempo em que acelera os entendimentos institucionais com a cúpula do PMDB para incorporar o partido à base governista no Congresso, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, está executando seu plano B. Após o resultado preocupante do primeiro enfrentamento com a oposição na Câmara, o governo decidiu acelerar a negociação no varejo, atendendo aos pleitos individuais dos peemedebistas nos Estados.

A operação vai até meados do segundo semestre, quando o Planalto planeja entregar um ministério ao PMDB. Mas, se o entendimento fracassar, ao menos boa parcela terá sido cooptada. O governo teve de apelar para a negociação caso a caso depois da votação do dia 26, quando o PMDB orientou sua bancada a votar contra os interesses do Planalto.

O Planalto venceu a parada e acabou conseguindo adiar a votação da Medida Provisória 80, que trata do financiamento para compra de máquinas agrícolas. Mesmo assim, a margem estreita de 33 votos de vantagem foi considerada um desastre pelos próprios governistas. Dos 49 deputados do PMDB presentes, apenas 3 votaram com o governo.

O resultado é considerado ruim porque a dissidência histórica do partido sempre foi de cerca de 30%. É esta a fatia do partido que, ao longo dos oito anos de administração Fernando Henrique Cardoso votou contra o governo. Em sua estréia no painel eletrônico de votação, porém, o PT não conseguiu levar consigo nem 10% dos peemedebistas na Câmara.

O placar também deixou claro que o apoio do PMDB é fundamental sobretudo porque o espaço de negociação dentro do PFL é bastante restrito. Apenas quatro dos 58 pefelistas presentes engrossaram as fileiras governistas: o paraibano Adauto Pereira e os maranhenses César Bandeira, Clóvis Fecury e Costa Ferreira. Os três pefelistas do Maranhão pertencem ao grupo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que trabalha abertamente pela parceria oficial entre PMDB e governo. Mas interlocutores palacianos não acreditam no empenho de Sarney para fechar o acordo. Embora o presidente do Senado encabeça a lista dos maiores aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso, líderes governistas avaliam que, na verdade, o acerto institucional com o partido não é de seu interesse, por razões puramente pragmáticas.

Afilhado

Argumentam os líderes que, enquanto a parceria não for concretizada, Sarney manterá sua condição confortável de principal interlocutor do PMDB com o governo e o presidente, com quem vem conversando freqüentemente desde a campanha eleitoral. Prova disso, insistem, é que Sarney já está fazendo acertos particulares com o governo.

São do presidente do Senado as indicações já acolhidas por Lula para a presidência da Eletronorte e também para a diretoria financeira da empresa. Isso sem contar que, às vésperas do carnaval, o senador conseguiu garantir para um afilhado político uma das nove vice-presidências da Caixa Econômica Federal.

Um interlocutor de José Dirceu no Maranhão conta que o ministro está tendo dificuldades para negociar a partilha de cargos federais no Estado por causa da avalanche de pedidos da família Sarney.

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