Dinheiro de Maluf faz rota curiosa

Paris – A juíza Marivonne Caillibotte, porta-voz do Tribunal de Paris, afirmou ontem que a origem do dinheiro depositado no banco Crédit Agricole, em Paris, pelo ex-prefeito Paulo Maluf (PP), é “certamente curiosa”. De acordo com a juíza, o dinheiro de Maluf “passou por um circuito financeiro bastante complicado” até chegar à França. A juíza Caillibotte diz que justamente por isso, além da importante soma envolvida, a Justiça francesa decidiu bloquear os valores durante todo o processo de instrução penal, que deve durar, no mínimo, algumas semanas.

Caillibotte confirmou que Maluf e sua mulher, Sylvia, são os titulares da conta conjunta que totaliza US$ 1,8 milhão no banco francês. Na última sexta-feira, o ex-prefeito e ex-governador de São Paulo negou possuir uma conta bancária em Paris e disse que apenas sua mulher era titular da conta no Crédit Agricole. “Se ele não fosse titular da conta, por qual razão teria sido detido para dar esclarecimentos à Brigada Financeira sobre a origem do dinheiro?”, indagou a juíza, acrescentando que “o senhor Maluf passa muito tempo se defendendo de algo em relação ao qual ele não é, pelo menos até o momento, acusado.”

Maluf também negou ter ficado detido na última quinta-feira e disse que compareceu ao escritório central da agência francesa de repressão a crimes financeiros por “espontânea vontade”. Esta informação também foi contestada pela juíza e pelo Ministério do Interior da França, segundo os quais havia uma ordem do juiz Henri Pons para que Maluf e sua mulher prestassem esclarecimentos às autoridades francesas. Procurado no Hotel de Paris, em Mônaco, onde está hospedado, Maluf não foi encontrado para comentar as dúvidas da Justiça francesa em relação à origem do depósito no Crédit Agricole.

A juíza Caillibotte não quis dar mais informações sobre a procedência do dinheiro de Maluf, alegando que isso faz parte do segredo de instrução do processo atualmente em andamento. O juiz Henri Pons, encarregado da ação, está levantando elementos sobre o circuito financeiro pelo qual esse montante passou.

Segundo Caillibotte, para saber se houve ou não lavagem de dinheiro, como suspeita a Justiça francesa, é necessário reconstituir e analisar cada etapa do circuito financeiro “complicado e curioso”.

A juíza afirma que essa fase de verificação é bastante longa. Até que o juiz recolha os elementos necessários e se pronuncie sobre o caso, Maluf e sua mulher não estão especificamente visados pela Justiça – e, por isso, foram liberados na noite da última quinta-feira. O juiz Henri Pons qualificou até o momento a ação como “lavagem de dinheiro em bando organizado”.

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