Desigualdade é a marca da sociedade, diz IBGE

Rio

– A Síntese de Indicadores Sociais 2002, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Rio de Janeiro, aponta a desigualdade como marca da sociedade brasileira. De acordo com o instituto, mesmo com a melhora em quase todos os indicadores sociais, ainda há grande distância entre homens e mulheres, entre brancos e negros, entre ricos e pobres, e entre as regiões.

Os dados, baseados em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2001, revelam que a desigualdade por cor foi mais forte que por gênero. Os homens pretos e pardos ganhavam 30% a menos que as mulheres brancas. Do total de pessoas que faziam parte do 1% mais rico da população, 88% eram de cor branca, enquanto que entre os 10% mais pobres, quase 70% se declararam de cor preta ou parda. O 1% mais rico tem os mesmos rendimentos dos 50% mais pobres, e os 10% mais ricos ganham 18 vezes mais que os 40% mais pobres.

Na região Nordeste, a mais pobre do País, a proporção chega a 60%. A população que trabalha no Brasil somou 75,4 milhões de pessoas, e o rendimento médio da população ocupada foi de somente R$ 595,40. O rendimento médio dos mais ricos da população ocupada ficou em R$ 2.744,30, enquanto a dos mais pobres atingiu somente R$ 149,85.

Gênero

A principal diferença entre homens e mulheres está nos rendimentos. As mulheres com grau de escolarização igual ou inferior a três anos de estudo ganham menos (61,5%) que os homens que estudaram o mesmo tempo. As mulheres com maior grau de escolarização (11 anos ou mais de estudo) ganham menos (57,1%) do que os homens desse grupo.

A concentração de mulheres nas classes de menor rendimento também é grande. Segundo o IBGE, 71,3% das que trabalham recebem até 2 salários mínimos (R$ 480), contra 55,1% dos homens. A proporção de homens que ganham mais de 5 salários mínimos é de 15,5% e das mulheres, 9,2%.

Negros e pardos

O rendimento médio da população negra e parda que trabalha é metade do que ganham os brancos. O levantamento mostra que a média dos rendimentos dos negros e pardos é de 2,2 salários mínimos (cerca de R$ 500), contra 4,5 mínimos (aproximadamente R$ 1 mil).

O IBGE destaca a região metropolitana de Salvador (BA), que conta com a maior concentração de negros e pardos do Brasil (82%), mas que tem as mais altas desigualdades por cor – a renda média dos negros é de cerca de um terço da dos brancos. De acordo com o instituto, a discriminação racial no trabalho é mais forte que a de gênero. Homens negros e pardos ganham 30% a menos que as mulheres brancas. Em 2001, 13,7% do trabalho doméstico era realizado por negros, 9,1% por pardos e 6,3% por brancos. Como empregadores, estavam 5,8% dos brancos, 1,3% dos negros e 2,3% dos pardos.

Entre o 1% mais rico dos brasileiros (que detém quase 14% do rendimento total do País), 88% eram brancos. Nos 10% mais pobres (com apenas 1% do rendimento total), 68% se declararam de cor preta ou parda.

Brancos concentram riquezas na RMC

A riqueza está de fato concentrada nas mãos dos brancos, conforme revela a publicação dos indicadores sociais 2001 lançada ontem pelo IBGE. Na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), o dado é ainda mais evidente. Entre a população de 1% mais rica da RMC, 98,1% são brancos, enquanto apenas 1,9% são negros. No Paraná, entre os mais ricos, 95,4% são brancos, 0,8% são negros e 5,8% se declararam pardos. O Sul é a região onde a riqueza mais se concentra entre os brancos (95%), enquanto no Brasil a proporção é de 62,6% (brancos), 1,8% (negros) e 35,6% (pardos).

Também o rendimento médio mensal revela a discrepância entre as raças: enquanto o salário médio do brasileiro branco é de R$ 757,47, do negro é R$ 376,08. O Paraná segue a tendência nacional: R$ 678,49 o salário do branco e R$ 407,87 do negro.

Outro dado é que no Paraná, os 10% mais pobres recebem R$ 41,17 de renda per capita, por mês. Os 40% mais pobres recebem R$ 96,03, enquanto os 10% mais ricos, R$ 1.761,16. Na RMC, os números são um pouco melhores: os 10% mais pobres recebem R$ 57,76, os 40% mais pobres, R$ 127,12 e os 10% mais ricos, R$ 2.526,00 – os números da RMC são maiores do que a média nacional, que são de R$ 32,09 para os 10% mais pobres, R$ 80,33 para os 40% mais pobres e R$ 1.773,23 para os 10% mais ricos.

Contribuição previdenciária

Quando o assunto é contribuição da Previdência Social, os paranaenses, especialmente da RMC, apresentam números melhores do que os nacionais: no Brasil, 45,7% contribuem, no Paraná são 46,4%, enquanto na RMC, 58%.

Em relação à mortalidade infantil, o Paraná registrou taxa de 21,4%, enquanto o Brasil, 28,7%. Apesar disso, o Estado foi o pior do Sul do País, atrás de Santa Catarina (17,5%) e Rio Grande do Sul (19,7%). Quanto à expectativa de vida ao nascer, a média do brasileiro é de 68 anos – 65 para homens e 72,8 para mulheres. No Paraná, a média é maior: 71 anos – 67,2 para homens e 74,1 anos para mulheres. Sobre os estabelecimentos de saúde por número de habitantes, existem no Paraná 2.230 pessoas por estabelecimento, enquanto no País é de 2.673.

Diferença de raças se mantém na década

Rio

– As diferenças entre a população branca e a de pretos e pardos se mantiveram no País na última década. As taxas de analfabetismo, mesmo em queda, são duas vezes mais altas entre pretos e pardos que entre brancos em todas as regiões do País. A desigualdade racial só é menos sentida entre as crianças, quando se avalia a escolaridade dos que têm entre 7 e 14 anos, e entre a população que trabalha e tem apenas o grau básico de instrução.

Segundo o relatório síntese da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2001, do IBGE, a educação básica atinge de maneira semelhante todas as raças e a pouca instrução também aproxima brasileiros brancos, pretos e pardos, que dividem igualmente o espaço nas atividades que o mercado oferece para esse nível de capacitação. Quando aumenta a idade e o nível de escolaridade, no entanto, a desigualdade racial fica cada vez mais evidente. Entre os estudantes de 15 a 17 anos, 60% dos brancos estão cursando o ensino médio, contra apenas 32% de pretos e pardos. A disparidade é ainda maior no ensino superior entre a população de 20 a 24 anos, onde para 53,6% de brancos fazendo graduação em universidades há apenas 15,8% de pretos e pardos. Na outra ponta, a pesquisa constata que, nessa faixa etária, 34,2% dos pretos e pardos ainda estão cursando o ensino fundamental (de 1.ª a 8.ª séries).

Metade não contribui para Previdência

Rio – A Síntese de Indicadores Sociais 2002 aponta que mais da metade da população brasileira que trabalha não contribui para a Previdência. A taxa de contribuição é de 45,7% – 46,1% entre os homens e 45,1% entre as mulheres. O percentual, que corresponde a cerca de 34,5 milhões de brasileiros, reforça a idéia de que há muitas pessoas no mercado informal.

O total de 75,47 milhões de pessoas ocupadas é composto, além daqueles com carteira assinada, de trabalhadores por conta própria, pelos que estão na economia informal e por empregadores.

Carteira assinada

Segundo o IBGE, 61,5% dos empregados têm carteira de trabalho (65,4% mulheres e 59,6% de homens). O percentual de trabalhadores domésticos com carteira assinada aumentou nos últimos anos, chegando a 26,1% em 2001, percentual ainda considerado baixo pelo IBGE.

Os trabalhadores autônomos têm a menor taxa de contribuição previdenciária (14,9%), enquanto que os empregadores constituem a segunda categoria ocupacional com maior índice de contribuição: 58,1%. Os empregadores são a segunda categoria ocupacional com a maior taxa de contribuição: 58,1% – mulheres 63% e homens 56,6%.

Diminui número de componentes das famílias

Rio – O número de pessoas que compõe uma família está diminuindo nas últimas duas décadas. É o que revela a Síntese de Indicadores Sociais 2002. De acordo com o levantamento, de 1980 a 2001, a família brasileira perdeu um integrante. Era 4,5 pessoas em média (1980), passou para 3,7 (1992) e atingiu 3,3 (2001). As regiões Norte e Nordeste apresentam o maior número de componentes – em média 3,7 pessoas, contra 3,2 registrado no Sul e Sudeste.

A síntese mostra aumento das famílias em que a mulher é a principal referência -cerca de 13,8 milhões de famílias estão nessa situação, ou 27,3% do total de 50,4 milhões de famílias.

Casamentos

O IBGE aponta também redução de 4,5% no número de casamentos civis registrados por ano. Em 1990, a taxa de casamentos por mil habitantes com mais de 15 anos era de 7,5, tendo caído para 5,7 em 2001.

Por outro lado, o índice de pessoas que se separaram ou se divorciaram ficou estável -era de 0,9 por mil habitantes com 20 anos ou mais em 1994, e passou para 1,2 a partir de 1999. Há também aumento no tempo das uniões civis, que passou de 9,5 anos em média (1990), para 10,5 anos (2001).

Discrepância atrapalha a evolução do País

Rio – Em um momento em que “preparar as bases para o crescimento” passou a ser o bordão do governo, o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, defende um combate vigoroso das desigualdades da sociedade brasileira para que elas não inviabilizem os projetos de desenvolvimento sustentável do País.

“Se olharmos para frente, as desigualdades podem ser um entrave se não forem modificadas. Porém, elas podem ser exatamente os objetos das políticas sociais que estão sendo definidas pelos governos atuais. Há tempo para reverter todas essas questões”, afirmou.

Segundo ele, o Brasil conseguiu melhorar a maior parte de seus indicadores sociais na última década, mas não encurtou a distância que existe entre mais ricos e mais pobres, pretos e brancos, homens e mulheres. “O Brasil é muito desigual”, resumiu Nunes.

Na opinião dele, os contrastes entre a população “e as lacunas em boa parte dela” dificultam políticas públicas e mesmo o planejamento das empresas. “Para quem planeja investimentos na área social, infra-estrutura, saneamento ou mesmo mercado privado, trabalha-se com a potencialidade de um mercado de 46,5 milhões de domicílios, mas, quando se vê a renda familiar da população, observa-se que quase 20% desses domicílios pertencem a famílias que recebem menos de meio salário mínimo por mês”, afirmou Nunes.

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