Denúncias contra gestão do Corinthians podem motivar pedido de CPI

Brasília – A crise na direção do clube de futebol Corinthians pode motivar o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para investigar o futebol brasileiro. Atualmente o presidente do clube, Alberto Dualib e o vice-presidente, Nesi Curi, estão afastados e são investigados por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Nos últimos dias, surgiram ainda denúncias na imprensa de suborno a fiscais da Receita Federal e pagamento de atletas do clube por meio de contas fora do país, uma forma de sonegar impostos.

"Acho que já existem elementos para abrir uma CPI desde que o Ministério Público fez a denúncia e foi acatada. Acho que agora estamos agregando novos fatos que estão fortalecendo a necessidade de uma investigação mais profunda e mais ampla", defendeu o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), que foi autor do  requerimento de audiência pública realizada hoje (13) pela Comissão de Turismo e Desporto com a presença de conselheiros do Corinthians e do secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior.

A instalação de uma CPI foi defendida também pelo conselheiro do time, Flávio Adauto, para que a situação vivida pelo Corinthians funcione como ponto inicial para uma investigação ampla que chegue a todo o futebol brasileiro. "O Corinthians é apenas uma vítima, apenas serviria de pano de fundo para algo muito mais profundo". Adauto, que também trabalhou como jornalista esportivo par mais de 30 anos, justifica a necessidade de uma abertura nas contas e negociações dos clubes. "O futebol é formado por uma rede de mentiras. O futebol não tem nada de verdade e 90% do que chega aos meios de comunicação sobre o futebol é mentira".

Em 2004, o Corinthians assinou contrato com a MSI Licenciamentos e Administração, interessada em investir no time paulista. Denúncias e investigações mostraram que por trás da MSI estava o milionário russo Boris Berezovsky. Sobre ele pesam acusações como lavagem de dinheiro e até envolvimento com a máfia russa. Boris é procurado pela Interpol.

Rubens Approbato, que além de ser conselheiro do time é um reconhecido jurista, assegura que os dirigentes do clube foram alertados por conselheiros de que a MSI era uma empresa fantasma e sobre as atividades ilegais e a origem duvidosa do dinheiro de Berezovsky. Segundo ele, alguns conselheiros foram contra a parceria, porém "outros chegaram a dizer que não importava a origem do dinheiro".

Os dirigentes do Corinthians chegaram a buscar o governo federal para trazer Berezovsky para o Brasil. Durante a audiência pública, o deputado Silvio Torres apresentou transcrição de escutas telefônicas feitas pela polícia em que Dualib tenta marcar audiência entre o russo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Houve ainda contato com o ministério da Justiça na tentativa de que Berezovsky entrasse com pedido de exilado político. Flávio Adauto confirmou aos deputados que os dirigentes do Corinthians, time para o qual Lula torce, "tentaram fazer com que o prestígio que eles gozam junto a presidência abrisse portas".

O secretário Nacional de Justiça esclareceu que nenhuma das tentativas obteve êxito e que é uma característica do crime organizado buscar autoridades para estabelecer seus negócios no país. "É normal que queiram buscar um agente público. Isso faz parte do crime organizado". O investimento no Corinthians foi apenas uma forma que Boris Berezovsky buscou para iniciar negócios no Brasil, segundo Tuma Júnior. Ele afirma que o russo teve a intenção de comprar a Varig, e queria investir em outras áreas, como por exemplo, petróleo.

O caminho para evitar que novos casos como o do Corinthians se repitam seria, na avaliação de Tuma, criar regras para o futebol. "Temos que criar mecanismos legais onde se estabeleçam regras para que prestações de contas sejam transparentes e fiscalizadas".

Os dirigentes do Corinthians foram convidados para a audiência pública mas não compareceram ou mandarem representantes de acordo com a presidência da Comissão de Turismo e Desporto. Na próxima semana integrantes do Ministério Público Federal falam aos deputados a respeito das investigações no time paulista.

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