Deflação pode ser pior para o País que a inflação

São Paulo – A inflação é um mal conhecido dos brasileiros, acostumados com altas sucessivas dos preços até o Plano Real, em 1994. Mas muitos analistas acreditam que a deflação, ou queda generalizada dos preços por um determinado período, pode ter conseqüências mais perversas à economia de um país.

A deflação é temida por ser agente de recessão. Um dos motivos dos índices negativos de inflação é a queda no consumo, causada por perda de poder aquisitivo e altos índices de desemprego. Para atrair o consumidor, a saída é baixar os preços. A queda generalizada dos preços causa prejuízos às indústrias, que muitas vezes precisam vender os produtos abaixo do valor de custo para atrair compradores. Com a ausência do lucro, muitas empresas fecham as portas, o que gera mais desemprego. Se não for quebrado, o ciclo pode levar o País a uma profunda recessão.

Os últimos índices de preço divulgados no Brasil apontaram deflação, principalmente por causa da redução do preço da gasolina, queda da cotação do dólar e grande oferta de alimentos no período. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, foi negativo em 0,15% no mês de junho, 0,76% abaixo da taxa registrada em maio. O IPCA é o mais importante índice de preços do País e não registrava deflação desde novembro de 1998. Já o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou deflação de 0,17% na primeira prévia de julho. O Índice de Preços ao Consumidor da Fipe registrou deflação de 0,16% em junho.

Apesar dos índices negativos, não se pode afirmar que o País esteja em deflação. “Não podemos confundir variação negativa em um mês com deflação”, afirma a economista Virene Martesco, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo ela, um País só está em deflação quando apresenta índices negativos de preço por três trimestres seguidos. Os economistas prevêem que a inflação volte à trajetória positiva, porém estabilizada, já no mês de julho. Os reajustes nas tarifas dos serviços públicos devem garantir que os próximos índices sejam positivos. “A inflação ainda está elevada. Nós estamos com uma expectativa de inflação em torno de 10% ao ano”, afirma Keyler Carvalho Rocha, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Os analistas acreditam que a deflação foi causada por ajustes nos preços, elevados excessivamente no último ano. Mas outro ponto que influenciou os índices foi a queda do consumo, estimulada pela alta taxa de juros, perda do poder aquisitivo do consumidor e, principalmente, pelos altos índices de desemprego.

O desemprego no Brasil atingiu 12,8% em maio, contra os 12,4% registrados em abril, segundo a Pesquisa Mensal de Empregos (PME) do IBGE. Esta é a maior taxa de desemprego no País desde março de 2002, quando chegou a 12,9%. Enquanto isso, a taxa básica de juros está em 26% ao ano.

Dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) apontam uma queda de 8,55% no faturamento do comércio varejista paulista no mês de maio.

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