Cúpula do PT inocenta Helena e encurrala Babá

Brasília

? A ira da cúpula petista mudou de alvo. Em vez da senadora Heloísa Helena (AL), crítica do governo Lula, quem deverá ser punido pela executiva do PT é o deputado João Batista de Araújo (PT-PA), mais conhecido como Babá. O pedido para uma ação punitiva contra ele será encaminhado à executiva pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante. “Vou levar para executiva minha opinião de que a senadora não deve ser punida. O caminho é do consenso, da unidade”, diz. “Agora eu espero retratação do deputado Babá às críticas feitas contra o ministro Antônio Palocci e vou encaminhar o caso à executiva”.

Entre as críticas disparadas contra o ministro, Babá disse que não confia e não convive mais com Palocci, nem como médico. Segundo Mercadante, o PT é democrático e se esforça para dar liberdade de expressão para todos seus integrantes. “O partido tem de ter respeito ao direito de discussão. Essa é uma diferença essencial no PT, mas alguns parlamentares devem entender que hoje o partido faz parte da base de sustentação do governo e unidade partidária fundamental”.

O senador lembrou que a bancada sempre votou por questão fechada, nunca deixou questão em aberto e todos tem de acatar a decisão do partido. Mercadante avaliou como positiva a conversa que teve na noite de quarta-feira com líder da bancada do PT no Senado, Tião Viana (AC) e a senadora Heloísa Helena. No seu entender, a senadora se comprometeu com o diálogo e unidade partidária. A única crítica que ele faz a Heloísa é o fato de não ter colocado na bancada a sua posição contra a formação da mesa.

“Ela tinha direito de ser contrária e de expor isso, mas ela ficou quieta na votação da bancada que aprovou por unanimidade a formação da mesa”, afirma. “Heloísa fez o comunicado de sua posição para alguns senadores, mas comunicado não resolve nosso problema, queremos unidade de ação e respeito à liderança”.

Quanto ao deputado Babá, ele afirmou ontem que não vai se retratar quanto às declarações dadas contra o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. “Não vou me retratar. Não confio nele pra nada. Nem como médico” voltou a dizer o deputado que encabeça o grupo de radicais do PT que não concordam com a condução da política econômica do governo. Irritado com as declarações de Mercadante, Babá reafirmou que não permite pressão e ser intimidado dentro do partido. “Estou exigindo coerência do PT. Apenas isto”, disse ele.

Babá também admitiu ontem votar contra o projeto do governo prevendo a autonomia do Banco Central. “Se for uma autonomia como está se prevendo, para que o Banco Central determine a política de juros e câmbio e de superávit com direito a quatro anos de mandato para o senhor Henrique Meirelles, não aceitarei”, afirmou. Segundo ele, essa proposta não consta de decisão de nenhuma instância do partido nem do programa de campanha de Lula.

Alencar: crise pode ser boa para os adversários

Rio

– Um “radical de centro” é como se define o deputado federal Chico Alencar (PT), que estréia na Câmara dos Deputados depois de dois mandatos de vereador e um de deputado estadual no Rio de Janeiro. Desde a vitória do PT nas eleições, Chico adotou uma postura mediadora que não aceita imposições dos integrantes do governo ou do comando petista, mas também rejeita retaliações. Chico Alencar cobra mais diálogo e teme que a crise interna do partido favoreça os “reais adversários” do governo Lula.

Segundo ele, nem sempre é o chamado radical quem desrespeita programas e princípios, em uma referência de que o prõprio governo estaria alterando os pontos do programa petista. No entanto, ele acha que em vez vigiar e punir “é preciso ouvir e debater. É bom lembrar que radical é quem vai à raiz das questões”. Mas ele também se esquiva de condenar o comando do partido. “É tão equivocado se definir em um mês um petista do governo como neoliberal quanto querer carimbar um componente da bancada, que muitas vezes expressa a perplexidade de sua base social, como adversário ou sectário”.

Petista prevê racha entre moderados e a esquerda

São Paulo

– O presidente estadual do PT de São Paulo, Paulo Frateschi, admitiu ontem que a “opção ao centro” que o partido assumiu poderá transformar em “inconciliáveis” algumas tendências internas e provocar um racha definitivo entre a ala majoritária, que apóia o governo, e as chamadas forças de esquerda da legenda. “O PT tomou uma posição de governo, de buscar aliados, mais ao centro. Sobrará um espaço à esquerda na cena política brasileira. Em política, não existe espaço vazio, alguém vai querer preencher”, disse.

Para Frateschi, existem sinais de que correntes de oposição no PT se movimentam nesta direção. “Pode ser que esta turma respeitável e que tem história na história do Brasil, que não é formada por aventureiros, acredite que deva preencher este vazio. Se isso acontecer, o PT vai ter de fazer uma opção”, afirmou.

Na avaliação dele, a partir do momento em que assumiu o poder, a agremiação não pode admitir, novamente, a convivência de “partidos dentro do partido”. “O PT precisa cuidar da unidade na ação, e a atuação no Parlamento agora é fundamental”, disse.

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