Críticas de Serra ao governo irritam FHC

Brasília (AG) – O presidente Fernando Henrique está irritado com a estratégia do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, de adotar um discurso mais agressivo em relação ao governo. As críticas de Serra causaram desconforto no Palácio do Planalto. Mesmo magoado, FHC continua disposto a participar da campanha de Serra e já anunciou presença na propaganda eleitoral do candidato.

O presidente Fernando Henrique Cardoso já demonstrou, inclusive publicamente, que está contrariado com os ataques que o governo vem recebendo de José Serra. Mas, segundo aliados, apesar disso ele considera fundamental para sua trajetória política garantir a vitória de Serra. Integrantes do Palácio do Planalto consideram que Serra está adotando uma estratégia errada ao tentar se afastar do governo porque a popularidade do presidente está crescendo.

Além disso, segundo integrantes do governo, as pesquisas mostram que uma parcela do eleitorado está disposta a votar no candidato do presidente da República. “O presidente está fazendo de tudo para colar no Serra, para mostrar em discursos os avanços do governo nos últimos anos, mas o problema é que Serra não faz a mesma coisa. Serra está se descolando do governo”, disse um aliado direto de Fernando Henrique. Nos últimos dias, incomodaram ao Planalto as declarações de Serra de que o governo Fernando Henrique é um e seu eventual governo seria outro, diferente ? não mencionando sua condição de candidato do governo ? e suas críticas à decisão de FHC de não fazer a intervenção federal no Espírito Santo.

A equipe econômica também não teria gostado das reclamações contra o aumento do combustível e do gás de cozinha. Nesse desencontro de comunicação entre o Planalto e o comando da campanha de Serra, na última semana o presidente deixou claro que não aceitou as reclamações do PSDB quanto à aproximação entre o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e o deputado Aloizio Mercadante, um dos coordenadores do programa econômico de Lula. Para assessores, a reação foi exagerada. No fim, o próprio Fernando Henrique disse que considerava “saudável e bem-vindo” esse tipo de contato entre Armínio e a oposição.

Ministros dizem que a principal tarefa do presidente é governar o país até o fim do seu mandato. “A principal responsabilidade do presidente é governar e governar bem. Governar bem é o melhor que ele pode fazer para ajudar o candidato Serra. Mas o mais importante é que o presidente tem uma história política e uma biografia a preservar e que, por isso, sua prioridade é governar bem”, disse um ministro e conselheiro do presidente.

Apesar de aparecer na propaganda eleitoral de Serra, FHC disse que não subirá em palanques nem permitirá ações do governo que possam ser contestadas pelos demais candidatos à Presidência. O presidente chegou a fazer uma reunião ministerial para discutir a aplicação da lei eleitoral, que proíbe, por exemplo, pronunciamentos seus em cadeia de rádio e TV e propagandas oficiais.

“O presidente não vai misturar as coisas. Ele deixou claro que uma coisa é o governo e outra coisa é a campanha”, disse um assessor do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Serra: nem governo nem oposição

João Pessoa

(AE) – O candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, disse ontem que não fará críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso. O senador disse que vai falar apenas de como será seu governo. Durante campanha ontem na capital da Paraíba, o candidato disse não ser “nem de oposição, nem de governo”. Insistiu, no entanto, que seu pronunciamento não é uma declaração de oposição ao governo. “Tenho discurso a respeito do que eu vou fazer do Brasil”, afirmou ele, antes de caminhar pela principal avenida à beira-mar de João Pessoa, com disposição para tomar cerveja, comer caju, amendoim, batata frita e cumprimentar o maior número possível de eleitores.

Serra negou que seus ataques à política de preços do governo federal para o gás de cozinha e a gasolina tenham objetivos políticos. “Eu me manifesto sobre um erro com relação ao gás. Isso não é uma postura política. É uma postura que tem a ver com o que eu vou fazer no governo”, disse. O presidenciável comparou a situação do Brasil, após quase oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, a uma casa em construção.

“O presidente Fernando Henrique fez muita coisa boa para o Brasil. Mas o Brasil é uma casa em construção: tem parede faltando, janela, teto em algum lugar. E depois, quem não erra não faz. Nenhum governo acerta tudo”, afirmou Serra. Indagado sobre o que pensa a respeito da possibilidade de reeleição, ele disse que, uma vez eleito, não tomaria a atitude de mexer na atual fórmula, que permite dois mandatos sucessivos de quatro anos cada. “Não vou tomar a iniciativa de alterar a regra do jogo como presidente, porque é sempre algo mal interpretado”, afirmou. Recente no País, a reeleição foi aprovada em 1997, quando o presidente Fernando Henrique estava em seu primeiro mandato.

Pouco antes do meio-dia, Serra deixou o hotel onde estava hospedado e, ao lado do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (PSDB), caminhou pela feira de artesanato de Tambaú, por bares e foi até o mercado de peixes – de lá, ele seguiu para o aeroporto, a caminho de Barreiras (BA). Bastante descontraído, Serra conversou e posou para fotos com turistas. Na Barraca do Pau Mole, tomou cerveja com freqüentadores assíduos, a maioria com mais de 50 anos, e ouviu pedidos para a criação de um genérico do Viagra.

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