Críticas ameaçam afetar governo, diz sociólogo

São Paulo

  – Passados pouco mais de dois meses da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, o governo é alvo de uma saraivada de críticas de antigos aliados, em movimentos sociais e partidos, e de correntes internas do PT. Os líderes petistas dizem que são manifestações isoladas, mas para o sociólogo Francisco de Oliveira, professor emérito da Universidade de São Paulo, as críticas podem dificultar a aprovação de medidas no Congresso e acelerar o desgaste natural do governo.

Oliveira é um dos principais ideólogos do partido e integrou a equipe que fez o programa de governo de Lula. -Não é bom que os aliados critiquem o governo de forma tão precoce. No futuro isso pode causar problemas no Congresso tornando as propostas do governo menos consensuais – explica Oliveira. Segundo ele, os problemas tendem a se intensificar com o passar do tempo e podem dificultar a governabilidade: – As alianças tendem a se esmaecer com o tempo.

Para Oliveira, as críticas não estão relacionadas ao desempenho de Lula no governo, mas ao discurso de mudança feito durante a campanha eleitoral e nos oito anos de oposição petista ao governo de Fernando Henrique Cardoso. – O governo foi eleito prometendo mudanças e há certa impaciência não só dos aliados mas de algumas partes da sociedade. Isso não acontece por incompetência nem por inabilidade do governo. Lula recebeu uma herança muito pesada – disse.

Nos primeiros dois meses do governo Lula, a maior parte dos ataques veio dos aliados. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criticou a proposta de reforma da Previdência, o PPS acusou o governo de não ter projeto estratégico, o PDT cobrou mudanças na política econômica, que também é alvo de ataques dos radicais petistas. Agora, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), acusado durante o governo tucano de ser uma correia de transmissão petista, desencadeou uma onda de invasões. – As circunstâncias dificultam. É como trocar um pneu com o carro andando -argumenta o presidente do PT, José Genoino.

Segundo Oliveira, a manifestação de impaciência de aliados como MST e CNBB joga por terra a retórica do governo tucano de que os movimentos sociais agiam de acordo com os interesses do PT: -O MST não é pau-mandado do PT. Essas manifestações são prova de que felizmente os movimentos sociais não são fantasmas criados pelo PT.

Coordenador do MST em Mato Grosso do Sul, Egídio Bruneto diz que os sinais do presidente Lula de que vai agilizar a reforma agrária precisam ser traduzidos em ações. Caso contrário, as milhares de famílias acampadas continuarão marchando e ocupando fazendas em todo o país: – Uma coisa é a vontade política. A outra é operar de fato em favor dos sem-terra. Líder nacional do movimento, João Paulo Rodrigues afirma que a noção de tempo é diferente para o governo e para os movimentos sociais:

PMDB dificulta acordo

Brasília

(AG) – O governo e o PMDB ainda estão longe de um acordo que garanta a inclusão da legenda na base parlamentar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora os petistas declarem sua intenção de integrar os peemedebistas, esbarram num problema: não têm cargos no primeiro escalão disponíveis que contemplem as expectativas do partido. Com a maior bancada no Senado e a terceira na Câmara, representantes do PMDB já deixaram claro que só se contentariam com um ministério formulador de políticas, como Planejamento, Justiça ou outro que disponha de um bom orçamento ou cargos para distribuir.

A demora está irritando não só a cúpula como a base do PMDB. O partido deu 15 dias de prazo após o carnaval para que o presidente decida. Esgotado esse prazo, o partido cogita da possibilidade de convocar uma convenção ou o conselho político para discutir seu futuro, independentemente do governo.

Genoíno nega problema

São Paulo

(AG) – Para o presidente do PT, José Genoino, as relações com setores da sociedade e partidos aliados que vêm demonstrando insatisfação não foram afetadas:

– Continuamos tendo as melhores relações com a CNBB. A Previdência que eles querem é a mesma que o governo quer. Vamos negociar com o MST dentro dos limites democráticos e não vejo as cobranças do PDT como críticas. As bancadas do PDT e do PPS continuam conosco no Congresso.

Genoíno afirma que as críticas não se justificam. Segundo ele, até agora o governo não cometeu nenhum grande erro. Num balanço dos primeiros dois meses do PT no poder, Genoíno destacou a firmeza da equipe econômica, que tem adotado o mesmo receituário usado em oito anos do governo tucano: – A credibilidade de Lula está mantida.

Outro ponto positivo dos primeiros dois meses, para ele, é a política externa. – O governo tem adotado uma política externa ofensiva e deu várias demonstrações disso desde as primeiras viagens à Argentina e ao Chile, a ida a Davos, a defesa da paz e agora os acordos com o governo da Colômbia – afirmou.

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