Boa Vista – Os índios da Comunidade Flexal decidiram aumentar a segurança em torno dos policiais federais mantidos reféns desde sexta-feira. Anunciaram ontem que os quatro continuam em cativeiro até que o governo nomeie uma autoridade para negociar mudanças no decreto que criou a reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, incluindo na área contínua de 1,7 milhão de hectares os arrozais e três comunidades com população predominantemente branca. Eles querem a revogação da homologação e recusam todas as propostas de libertação dos policiais. Também decidiram reforçar o movimento, concentrando lideranças e guerreiros em Flexal – segundo os líderes, estão na região cerca de 1.300 índios. Mais da metade é proveniente de outras comunidades, como a de Contão, e se reuniu para pressionar o governo a indicar um interlocutor oficial para negociar. Líderes mais exaltados, como o Tuxau Amazonas (ele usa a denominação de cacique no nome), da Comunidade Nova Vida, acusam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter se rendido aos interesses dos Estados Unidos e das ONGs internacionais. Ontem, Amazonas chegou a pedir o impeachment de Lula.
A hostilidade contra o governo e as forças federais que estão na região continua forte. Os policiais mantidos como reféns já não podem circular com as armas. Eles ocupam uma casa de apoio, no meio das malocas e sempre que precisam circular são obrigados a deixar as armas. A permanência das armas foi uma concessão dos caciques, em sinal de respeito, depois que o delegado explicou que seria crime um policial entregá-las.
O cacique Lauro Barbosa, em conversa com autoridades do governo estadual, através de um sistema de comunicação por radiofonia instalado na aldeia, disse que os pneus das duas viaturas estacionadas entre as malocas seriam esvaziados. Na única estrada de acesso, cinco quilômetros antes de Flexal, os índios colocaram pedras e paus para dificultar a passagem por terra numa eventual operação de resgate dos policiais. O movimento dos macuxis não inclui a etnia mais próxima de Flexal, os ingaricós, formada por cerca de 800 índios que vivem nas montanhas da Serra do Sol e não engrossam o protesto. Um grupo esteve no local apenas para se informar do que estava acontecendo. Os ingaricós vivem isolados do contato com comunidades brancas.


