Uma comissão formada por médicos, juristas, pesquisadores e representantes de entidades apresentou à presidência da Câmara dos Deputados, hoje, um pré-projeto de lei que pretende descriminalizar o uso das drogas.

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A proposta transforma o uso de todas as drogas (hoje classificado como um crime, mas sem prisão prevista) em infração administrativa, desde que a quantidade apreendida seja para um consumo de até dez dias.

A quantidade máxima de cada droga deve, segundo o texto, ser definida pelo governo em regulamentação posterior. Em Portugal, por exemplo, a quantidade máxima para a maconha é de 25 gramas, segundo Pedro Abramovay, diretor de campanhas da Avaaz (site que colheu mais de 100 mil assinaturas para este pré-projeto).

De acordo com Abramovay, a ideia é trazer para o Brasil um modelo adota em Portugal há mais de dez anos, em que o usuário pego com drogas não é levado pela polícia; é encaminhado para uma comissão de médicos e juristas, que define multa ou advertência e um possível encaminhamento para o atendimento médico.

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Ele argumenta que a lei das drogas foi mudada em 2006 com o objetivo de reduzir o número de pessoas presas, ao permitir que o usuário não fosse preso. Mas, como a lei manteve o uso como crime e não definiu quantidades, continua ele, os usuários passaram a ser classificados como traficantes.

“Hoje, se você é pobre, é traficante. Se é rico, é usuário. Pela primeira vez, a droga é o crime que mais prende no Brasil. Passamos de 62 mil presos em 2006 para 125 mil em 2011”, diz ele.

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Uma proposta na mesma linha foi fechada pela comissão de juristas, que propôs este ano a reforma do Código Penal ao Senado. Lá, segundo Abramovay, a ideia era descriminalizar quantidades para até cinco dias, mas não havia a proposta de uma comissão para avaliar caso a caso.

Não seria crime, mas não seria legalizado

Abramovay argumenta que, nos países que descriminalizaram o uso, não houve aumento de consumo. “Não é a legalização, a liberação. Podem ficar absolutamente tranquilos, não é uma medida que aumenta o consumo. Permite que se trate melhor o doente.”

A proposta é encabeçada pela Comissão Brasileira Sobre Drogas e Democracia, presidida pelo presidente da Fiocruz (Ministério da saúde), Paulo Gadelha.

“O mais importante é tirar a ideia de que o dependente de drogas, como o de álcool e tabaco, é um criminoso. Ele precisa de tratamento”, afirma.

Gadelha admite que o país, hoje, não tem estrutura adequada para tratar todos os usuários de drogas, e diz que esse não pode ser um impedimento. “Temos que nos preparar para atender.”

A proposta foi apresentada ao presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que disse que colocaria a proposta no e-democracia, site oficial da Casa que promove debates.

Segundo Abramovay, a expectativa é que um projeto de lei seja apresentado entre o final do ano e o início do próximo por um grupo de deputados -encabeça a iniciativa o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), integrante da comissão.