Rio – Nove em cada dez eleitores brasileiros permanecerão os próximos dois anos sem representação no comando do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Pela primeira vez, os estados que concentram 89% do eleitorado, 90% do Produto Interno Bruto (PIB) e 95% da arrecadação de tributos não participam das mesas diretoras do Legislativo federal.

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Esses órgãos têm poder de decisão sobre toda a agenda parlamentar de votações, indicação de relatores de projetos, promulgação de leis, posse e vacância no cargo ou impedimento do presidente da República.

O alijamento do Sudeste e do Sul tornou-se possível a partir de uma bem-sucedida manobra eleitoral, no início de fevereiro, realizada por senadores e deputados do Nordeste (Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Maranhão), do Norte (Acre, Rondônia e Tocantins) e do Centro-Oeste (Mato Grosso e Distrito Federal). Esses nove estados ficaram com todos os 21 cargos de comando do Legislativo.

Resultado: todo o eleitorado representado na Mesa da Câmara cabe dentro do Estado do Rio, que em dezembro tinha 10,5 milhões registrados. E o número de eleitores representados na direção do Senado e do Congresso (13,6 milhões) equivale ao colégio eleitoral de Minas Gerais e à metade do eleitorado de São Paulo.

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Há quem veja nisso uma violação do princípio da igualdade política, como é o caso de Gláucio Ary Dillon Soares, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj): ?Quando os estados com 90% da população e dos eleitores, além de mais de 95% dos impostos pagos, têm zero de representatividade nas mesas, há uma grotesca violação do princípio democrático da proporcionalidade na representação?.

A coalizão contra o Sudeste e o Sul na disputa dentro do Parlamento foi costurada sobre a rebeldia entre governistas, dominante nos últimos seis meses, pelos recém-eleitos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Assim, foi possível a estados pobres, com população e eleitorados mínimos, se transformarem em autênticas potências políticas, com hegemonia no controle do Legislativo.

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