Em pouco mais de um mês, São Paulo ganhou 60 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus, incluindo o polêmico trecho na Avenida 23 de Maio. A velocidade dos coletivos nestes locais praticamente dobrou e os carros ficaram ainda mais travados no trânsito. Especialistas e motoristas ouvidos afirmam que as melhorias ainda são tímidas para converter quem está atrás do volante a usuário do bilhete único.

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Na quarta-feira, o Grupo Estado fez um trajeto de 23 km entre o Terminal Capelinha, no extremo sul da cidade, e a Praça da Sé, de ônibus e de carro. A viagem pelo transporte coletivo durou 1h50, meia hora a menos do que de carro. “Só esse trecho de faixa da 23 de Maio faz a gente ganhar de 10 a 20 minutos”, afirma o cobrador de ônibus Pedro Eno, de 45 anos.

Mas os motoristas que se espremiam nas faixas restantes da avenida enquanto os ônibus passavam pela via livre ainda não parecem dispostos a trocar de lado. Mesmo favorável à melhoria do transporte público, o comerciante Maurício Sooma, de 48 anos, já pensava em um caminho novo para fazer entre a Barra Funda e o Ibirapuera. “Eu levava 10 minutos. Agora, são 40”, diz.

Uma pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) conclui que a melhoria do transporte público não tem influência na escolha dos motoristas. Com dados da pesquisa de Origem e Destino do Metrô, os pesquisadores Rodrigo Moita e Carlos Eduardo Lopes criaram um algoritmo para simular o padrão de escolha da população. Eles deram pesos a fatores como renda, fluxo de passageiros e rota a ser percorrida. O resultado achado por eles é que a forma mais eficaz de fazer motoristas migrarem para o transporte público é tornar mais caro andar de carro.

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De acordo com o estudo, apesar da melhora nas condições, corredores de ônibus não atraem mais passageiros. Novas estações de metrô também não atrairiam motoristas, apenas roubariam usuários do sistema de ônibus.

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“A política pública mais polêmica seria tirar o rodízio e colocar o pedágio urbano”, diz Moita. Segundo a pesquisa dele, um pedágio que cobrasse R$ 1 diminuiria o trânsito em 6%. Se a taxa fosse de R$ 5, a diminuição no fluxo de veículos chegaria a 28%. O pesquisador relata ainda que há outras possibilidades eficazes, como a proibição de estacionar nas ruas do centro.

Pela tese, ao acabar com a cobrança da inspeção veicular o prefeito Fernando Haddad estimula o uso do transporte individual. O prefeito quer inverter a vantagem que os carros têm sobre os ônibus. “Estou fazendo o que eu acredito, que é priorizar o transporte público”, diz.

A velocidade média dos ônibus é 27,6% menor do que a do trânsito no pico da manhã. Enquanto os coletivos andam a 16 km/h, o trânsito em geral se locomove a 22,1 km/h. Já no pico da tarde, os ônibus são 18,9% mais lentos. Eles circulam a 15 km/h, enquanto a velocidade média do trânsito é de 18,5 km/h. Na 23 de Maio, a faixa exclusiva já colocou o ônibus à frente dos carros. De manhã, a velocidade subiu de 15,1 km/h para 24 km/h (58%) e de tarde, passou de 17,3 km/h para 22,5 km/h (30%).

Neste ano serão licitados 127 km de corredores – ainda mais rápidos que as faixas, porque ficam à esquerda e não têm interferências. Para consultor de trânsito Flamínio Fichmann, para que o modelo seja bem-sucedido, é preciso rearranjar as linhas da cidade. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo