CNBB cobra mudanças de Lula

Brasília

  – Um dia após o novo governo elevar os juros pela segunda vez neste ano, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Jayme Chemello, pregou ontem a revisão da política econômica. “A economia também tem de ser em favor do ser humano”, disse o bispo, afirmando não ser possível continuar com uma política que impede o crescimento e a geração de emprego.

Para d. Jayme, os juros “altíssimos” atraem investidores que abandonarão o País assim que as taxas caírem: “Não é investimento real, é investimento financeiro que, no fundo, vai exaurindo nossas riquezas.” O bispo não gostou da justificativa dada pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, para a condução da economia de forma semelhante à do antigo governo.

Nesta semana, na reunião da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB, Palocci teria dito – segundo o bispo -não haver muitas alternativas porque a política internacional cobra certas atitudes do governo. “Não estou totalmente satisfeito ainda”, respondeu d. Jayme diretamente ao ministro, que teria prometido retornar sozinho à CNBB para nova conversa.

D. Jayme reconhece ser necessária tolerância, afinal, o governo não completou o segundo mês: “Não posso colocar na garganta do governo enquanto houver boa vontade, sinceridade e transparência”. Observou, porém, que “paciência também se esgota”.

Apesar das duras críticas à economia, d. Jayme elogiou a decisão do governo de dar prioridade ao social e desclassificou a polêmica em torno do programa Fome Zero. Segundo o presidente da CNBB, “é um pouco de inocência” pedir para que se resolva a questão da fome em 40 ou 50 dias. É, na opinião dele, uma tarefa para dez anos. E não só do governo, numa “campanha relâmpago”, mas num mutirão que conte com a participação da sociedade civil.

Para promover as mudanças sociais, d. Jayme entende que o País precisa ser reestruturado para crescer e gerar empregos. Segundo ele, não basta só dar alimentos. Assim, os brasileiros virariam mendigos. Um passo necessário, diz, é a realização das reformas, especialmente a da Previdência e a tributária.

O bispo reclama dos pesados tributos sobre o macarrão, base da alimentação das famílias pobres. Ele teme que, se forem mantidos os valores elevados e os benefícios de determinados grupos, os velhos ficarão sem aposentadoria, no futuro. “A Previdência está nos comendo pela perna.” A Igreja quer também que o governo promova uma reforma agrícola para fixar os assentados e o homem do campo na terra e estimular os produtores a plantarem produtos consumidos pelos brasileiros, como arroz e feijão, ao invés de soja, de interesse dos exportadores.

Voltar ao topo