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Cientistas identificam proteínas do vírus da zika que causam microcefalia

Duas proteínas do vírus da zika são responsáveis pela microcefalia, de acordo com um estudo liderado por cientistas da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos Estados Unidos. O vírus é formado por 10 proteínas, mas apenas duas delas estão envolvidas nas alterações da regulação celular que desencadeia a má-formação, segundo os autores da pesquisa publicada nesta quinta-feira, 11, na revista científica Cell Stem Cell.

Estudos anteriores já haviam provado que o vírus da zika é responsável pela microcefalia e explicado como o vírus infecta as células-tronco do cérebro, induzindo-as à morte celular e impedindo o desenvolvimento normal do cérebro. Para isso, foram utilizados experimentos em animais e em organoides – popularmente conhecidos como minicérebros – que simulam as estruturas cerebrais humanas em laboratório.

Mas o novo estudo, segundo os autores, é o primeiro a analisar o vírus em nível molecular e a investigar como ele causa a microcefalia a partir de linhagens de células-tronco neurais de fetos humanos.

Os cientistas infectaram essas células-tronco dos cérebros dos fetos, em seu segundo trimestre de desenvolvimento, com três diferentes linhagens do vírus da zika. O passo seguinte consistiu em analisar o impacto da infecção de acordo com a presença de cada uma das 10 proteínas que são codificadas pelo RNA do vírus da zika.

Eles descobriram que duas proteínas, chamadas NS4A e NS4B, têm duas funções específicas: desorientar o mecanismo de sinalização das células do cérebro do feto, tornando-as deficientes e mobilizar as forças dessas células para acelerar a proliferação do vírus.

“Como agora nós conhecemos a rota molecular, demos um grande passo para descobrir quais são as melhores terapias contra a microcefalia induzida pelo zika. Dentro de alguns anos, essas terapias poderão ter como alvo as proteínas NS4A e NS4B”, disse um dos autores do estudo, Jae Jung, da Escola de Medicina da USC.

As duas proteínas desorientam completamente uma rota de sinalização das células que é central para proteger o desenvolvimento das células do cérebro e para regular seu mecanismo de autofagia – um processo que funciona como uma espécie de “usina de reciclagem” celular, com a função de digerir os componentes celulares danificados. Normalmente a autofagia também ajuda a destruir toxinas e organismos invasores, mas quando as células estão infectadas com vírus como o zika, o mecanismo é sequestrado para ajudar o vírus a se proliferar.

“O zika ama a autofagia e precisa dela. O zika aumenta sua atividade nessa usina de reciclagem de forma que pode usar a energia e os nutrientes ali presentes para se replicar. É possível que o zika utilize a maior parte da energia das as células-tronco neurais, deixando-as com déficits metabólicos. Com isso, as chances dessas células se diferenciarem e se tornarem neurônios maduros é muito mais baixa”, explicou Jung.

Segundo ele, em síntese, as proteínas NS4A e NS4B tolhem o desenvolvimento do cérebro e estimulam a autofagia para que o vírus possa se alastrar. Segundo o estudo, quando as duas proteínas sequestram as células-tronco neurais dos fetos, o crescimento delas é reduzido em 65%. Além disso, a diferenciação de células-tronco neurais em neurônios maduros e outras células cerebrais é reduzida em 51%.

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