Campanha do PT está despolitizada

O espírito “Lulinha paz e amor” baixou nas campanhas petistas, seja de candidatos das alas moderada ou da esquerda do partido. A propaganda eleitoral petista se rendeu ao marketing e ficou despolitizada. O PT das denúncias, da luta de classes e das críticas ao neoliberalismo foi definitivamente para o limbo. Os petistas agora só querem amor. Seus candidatos querem ser de todos e seus slogans não falam mais em revoluções, apenas em fazer as coisas melhor e bem feitas. Alguns chegam a dizer que o partido americanizou suas campanhas.

“Aquele PT de lutas acabou, agora é o PT paz e amor, o que fez e que faz”, ironiza Delfim Netto (PP-SP). “O PT aprendeu na campanha do Lula que bater no adversário não garante a vitória e que a população reage quando a disputa vai para a pancadaria”, diz o líder do PT na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (SP).

O candidato petista nestas eleições é apresentado como o que “fez, fez bem feito e fez para todos”, como o prefeito Marcelo Déda, que busca a reeleição em Aracaju. A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, entrou na onda e se apresenta como “uma mulher de coragem”, que também “fez bem-feito”. Integrante da tendência Democracia Socialista, da esquerda petista, o ex-prefeito Raul Pont adotou o slogan “Cada vez mais Porto Alegre”. Militante da tendência Movimento PT, a deputada Fátima Bezerra também aderiu a um lema despolitizado: “Quero Natal melhor”.

Há entre os petistas os que vêem nessa mudança de estilo de fazer campanha uma diluição programática. “Os candidatos do PT consideram que já têm uma parcela do eleitorado e adotam uma linha pragmática para buscar o voto de centro”, diz o deputado Henrique Fontana (PT-RS). Para o deputado Jorge Bittar, candidato a prefeito do Rio, cujo slogan é “vale a pena mudar com Bittar”, a população não gosta de quem bate: “A população quer propostas, não discurso. Mas isso não significa esterilizar a política”.

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), reconhece que esses slogans dão a impressão de despolitização. E o presidente do PT, José Genoino, explica a mudança pelo fato de a eleição ser municipal. O que no passado não impediu o partido de fazer dos palanques dos pleitos locais tribunas para atacar o FMI, o imperialismo e as elites econômicas do país.

Para o cientista político João Francisco Meira, do Instituto de Pesquisa Vox Populi, o PT mudou a linguagem: “Depois que o PT virou governo seria um déjà vu se afirmar ao lado dos trabalhadores. O PT descobriu que para ser eleitoralmente viável precisa falar a linguagem do eleitor”. Nesse embalo, a deputada Telma de Souza, ex-prefeita que quer voltar ao cargo, promete um “Futuro melhor para Santos”. O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, diz que é “Bom de serviço”.

Depois de ter comprado uma briga com o PT nacional, a candidata Luiziane Lins, da Democracia Socialista, adotou o slogan “Por amor a Fortaleza”. “Quem tem de politizar a eleição é a oposição”, diz, em defesa da linha adotada de norte a sul pelos petistas, o deputado Paulo Delgado (PT-MG). “Eleição não tem ideologia, é oportunidade. Em 1994 o PT deu murro em ponta de faca enquanto o povo abanava as notas de R$ 1”, lembra o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).

Escândalos ficaram na gaveta

O PFL bem que tentou federalizar as eleições municipais deste ano, levando para as campanhas de seus candidatos as críticas ao governo Lula. A estratégia, que vinha sendo montada desde o início do ano, foi mudada há pouco mais de um mês porque esbarrou em dois problemas: a falta de adesão por parte dos principais candidatos do partido e a recuperação da popularidade do presidente.

A intenção da cúpula do PFL, que chegou a armazenar um farto material sobre os escândalos e o desempenho do governo federal na economia, era municiar seus candidatos para que tirassem proveito da situação, como faziam os petistas. Os ataques poderiam ser usados principalmente por candidatos de capitais e grandes cidades, onde o debate é sempre mais politizado. A maioria, no entanto, rejeitou a estratégia.

É o caso do senador César Borges, candidato em Salvador, e do prefeito Cesar Maia, que tenta a reeleição. Eles optaram por uma política de boa vizinhança com o governo federal e evitam tocar em temas nacionais e brigar com o presidente.

O ex-ministro Alceni Guerra, coordenador das campanhas do PFL, admite que o partido pretendia federalizar a disputa. No primeiro semestre, quando estouraram escândalos como o do caso Waldomiro Diniz, especialistas em marketing consultados pelo PFL acreditavam que seria um bom filão explorar desvios éticos do PT. “Queríamos mostrar a incongruência do governo do PT, mas percebemos que a figura do presidente Lula estava preservada e que era preciso cuidado para não beber do nosso próprio veneno”, conta Alceni Guerra.

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