Cabo da PM volta a confessar participação na morte de juíza Acioli

Durante o seu julgamento por acusação de matar a juíza Patrícia Acioli, o cabo da PM do Rio Sérgio Costa Júnior voltou a confessar sua participação no crime. Ele é o primeiro réu a ser submetido a julgamento, que está acontecendo nesta terça-feira no Fórum de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Sérgio afirmou ter atirado ao menos 15 vezes contra o carro da juíza na porta do condomínio onde ela morava, em Piratinginga, na Região Oceânica de Niterói. Segundo ele, foram ao menos três tiros de pistola 45, que teria falhado, e outros 12 com uma pistola calibre 40.

Em seu depoimento, Sérgio afirmou que ele e o tenente Daniel Santos Benitez Lopes esperaram Acioli na porta do Fórum de São Gonçalo e decidiram seguí-la de moto após ela ter decretado a prisão deles e de outros PMs por um auto de resistência (morte em confronto) cometido em junho de 2011 no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo.

“A decretação da prisão foi a gota d’água”, disse o cabo da PM durante depoimento.

Ele afirmou que, em um dado momento, a motocicleta ultrapassou o carro de Acioli e a dupla esperou a juíza na porta do condomínio. “Quando avistamos o carro, eu e o Benitez nos aproximamos e efetuamos os disparos”, disse ele.

O PM afirmou ter efetuado muitos disparos porque o carro da juíza tinha vidros escuros e não tinha visão completa de Acioli dentro do veículo. Ele disse que estava indignado com o decreto da prisão.

Sérgio contou que o plano para matar Acioli vinha sendo tramado desde maio e, em pelo menos duas ocasiões, os PMs tentaram colocar a ideia em prática mas não conseguiram. Segundo ele, foi cogitado inicialmente que milicianos seriam contratados para matar a juíza.

Morte seria “favor”

Primeira testemunha a depor hoje, o delegado Felipe Ettore –que presidiu a investigação do assassinato– afirmou que o comandante do batalhão de São Gonçalo tinha “total interesse” na morte da magistrada.

De acordo com o delegado, um dos PMs suspeitos de cometer o crime falou em depoimento que ouviu uma conversa entre o tenente Daniel Santos Benitez Lopes e o tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, ex-comandante do 7º Batalhão (São Gonçalo), em que Oliveira disse que seria uma “favor para ele” se alguém matasse a juíza.

Testemunhas teriam dito a polícia que o tenente-coronel Oliveira temia ser preso pela juíza por suspeita de corrupção. A magistrada havia determinado que todos os policiais do 7º Batalhão que estavam sendo investigados fossem retirados das atividades externas. Oliveira não obedeceu as determinações.

A advogada Ana Cláudia Abreu Lourenço, segunda testemunha a se apresentar no julgamento, afirmou que a magistrada tinha “muito medo” do tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, então comandante do 7º Batalhão (São Gonçalo).

A advogada contou que, em uma conversa dias antes do crime, a juíza afirmou que caso Oliveira comparecesse a 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, onde ela trabalhava, seria “para intimidá-la ou para matá-la”.

Lourenço era advogada de defesa do tenente Daniel Santos Benitez Lopes e dos cabos Sérgio Costa Junior e Jefferson de Araújo Miranda –acusados de participar da morte de Diego da Conceição Beliene, 18, em junho, no morro do Salgueiro, em São Gonçalo.

Segundo a investigação, um mês antes do assassinato de Patrícia, a advogada telefonou para o cabo Jefferson Miranda para avisar que a magistrada iria incluir no processo toda a guarnição do GAT (Grupo de Ações Táticas) do 7º Batalhão (São Gonçalo) que esteve no local do assassinato do rapaz de 18 anos.

De acordo com a polícia, os PMs planejaram a morte da juíza para tentar evitar que ela decretasse a prisão do trio pela morte de Beliene. A prisão deles, no entanto, foi decretada por Acioli horas antes de morrer.