Brasileiros vão aos EUA para morrer no deserto

São Paulo – O paulista Ricardo Luís Inácio, de 31 anos, tentava atravessar a pé a fronteira entre México e Estados Unidos em busca de trabalho, quando morreu esta semana de desidratação. Este é o terceiro caso em poucos dias. O corpo de Inácio, encontrado no Texas, foi liberado anteontem pela polícia americana. A família, que vive em São Paulo, não tem dinheiro para trazer o corpo de volta ao Brasil. “Ele quis dar uma vida melhor para a gente e por isso ele tentou. Se arriscou, não é?!”, disse a viúva de Inácio.

Durante a semana, a brasileira Vilma Ribeiro Machado, de 41 anos, também havia morrido, da mesma forma, tentando atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos. O corpo da enfermeira foi descoberto pela polícia americana em Tucson, no Arizona. A dela foi a segunda morte de emigrantes goianos em apenas um mês, na região. Antes, no dia 3 de junho, o sapateiro Welton Divino Feliciano, de 34 anos, morreu abandonado no Deserto do Arizona, perto de Douglas.

Quando não morrem, os brasileiros são presos. Na semana passada, um grupo de 14 goianos foi preso na fronteira com o Texas. E na terça-feira passada, 25 imigrantes ilegais vindos do Brasil foram presos, muito deles sofrendo de inanição e desidratação. Quatro mulheres estavam entre eles. Ainda assim, cinco pessoas conseguiram fugir e eram procuradas pela polícia.

A realidade é que, pela falta de um verdadeiro “espetáculo do crescimento” no País, os brasileiros estão colocando a vida em risco para buscar uma oportunidade no exterior. Este fenômeno não é recente, mas cresceu muito nos anos 90s. Para se ter uma idéia, os brasileiros formam grupo de imigrantes que mais cresceu nos EUA nos anos 90s, ainda que o total seja pequeno em relação a outros grupos, com uma população de 211 mil pessoas, segundo o último censo de 2000. “O censo de 2000 mostra um aumento de 158% em relação ao censo de 1990”, disse Mark Krakorian, vice-presidente do Centro de Estudos Migratórios, com sede em Washington.

O número de brasileiros que vivem nos Estados Unidos, legal ou ilegalmente, aumentou de 82 mil, em 1990, para 211 mil no ano 2000. No entanto, autoridades brasileiras nos Estados Unidos estimam que entre 800 mil e 1,2 milhão de brasileiros vivem no país, na maioria de forma ilegal. Segundo Carlos Villanova, porta-voz da embaixada brasileira em Washington, “a maioria deles é ilegal, por isso é difícil ter o número exato”.

“Por exemplo, só 3 mil brasileiros estão inscritos no consulado em Washington, ainda que as estimativas apontem que entre 100 mil e 200 mil brasileiros vivam na região”, acrescentou ele. De acordo com o último censo, os brasileiros constituem o 29.º maior grupo de imigrantes nos Estados Unidos – estavam em 46.º lugar em 1990 – e se concentram nos estados da Flórida, Massachusetts, Califórnia, Nova York, Nova Jersey, Connecticut e Texas.

“Antes, não havia muitos brasileiros nos EUA. Não havia conexão histórica com o país”, disse Krakorian, para quem os brasileiros que vivem e trabalham no país recebem salários maiores e são mais educados que outros imigrantes. “O Brasil está tão longe que é difícil para um pobre, com pouca educação, chegar aos EUA”, diz Krakorian.

Voltar ao topo