Brasileiro ganha cada vez menos, diz o IBGE

Rio – O Brasil criou mais postos de trabalho em 2002, mas não conseguiu absorver o enorme contingente de pessoas que engrossam as filas de desempregados. Além disso, os que têm trabalho estão ganhando cada vez menos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2002, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o País teve em 2002 o mais forte crescimento no número de pessoas ocupadas dos últimos 10 anos. A alta foi de 3,6 por cento em relação ao ano anterior.

Segundo a Pnad, 55,7 por cento da população de 10 ou mais anos de idade, isso é, 78,1 milhões de pessoas, tinham trabalho no ano passado, contra 54,8 por cento em 2001. Porém, 7,8 milhões de pessoas estavam em busca de uma vaga. Reduzir o desemprego é um dos maiores desafios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu o governo em janeiro prometendo criar milhões de empregos. Para analistas, o fraco crescimento econômico que marcou a maior parte da década de 1990 explica o quadro desanimador do mercado de trabalho.

“Efetivamente o País ainda não deu uma guinada em termos de crescimento… Só há uma melhora no mercado de trabalho quando o setor produtivo voltar a investir”, disse Eliane Navarro Rosandiski, economista do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas. Quem tem emprego amarga, desde 1996, uma contínua queda da renda. Entre 1996 e 2002, a renda média real do trabalhador declinou 12,3 por cento, chegando no ano passado a 636 reais. O IBGE destacou que as várias crises a que foi submetida a economia nos últimos 10 anos contribuíram para as perdas reais dos salários. Em 2002, as turbulências do cenário eleitoral, que levaram a um aumento do risco-país e do dólar, ajudaram a derrubar a renda.

Mas o instituto verificou que as perdas reais foram menores para os que estão situados nas faixas mais baixas de remuneração, em parte por causa do reajuste do salário mínimo. “Ainda que pequeno, o ganho real de 1,4 por cento que o salário mínimo de 2002 apresentou em relação ao ano anterior ajudou a atenuar as perdas nos segmentos que continham esse rendimento”, afirmou a Pnad.

De 2001 para 2002, a perda real entre os 50 por cento das pessoas trabalhando com as menores remunerações de trabalho foi de 1,7 por cento, enquanto os 50 por cento com os maiores rendimentos, a perda foi de 2,6 por cento.

Ainda assim, as desigualdades entre ricos e pobres permanecem gritantes. Em 1992, os 10 por cento dos trabalhadores com maiores rendimentos concentravam 45,1 por cento do total das remunerações. Já os 10 por cento dos que tinham os menores rendimentos respondiam por 0,8 por cento.

Índices sociais têm suave melhora

Rio

– O aumento da escolarização e a queda do trabalho infantil foram duas boas notícias trazidas pela Pnda. De 1992 a 2002, o percentual de pessoas entre cinco e 17 anos que não freqüentavam a escola caiu de 24,2% para 9,7%. A redução mais forte foi entre crianças de cinco a seis anos, cuja parcela que não estudava baixou de 46,1% para 22,8%. A taxa de analfabetismo brasileira continuou a cair em 2002, mas ainda se manteve em patamar bastante elevado, atingindo 10,9% da população com mais de 10 anos. Com mais crianças na escola, o trabalho infantil tem diminuído sensivelmente. Em 2002, 12,6% das crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos trabalhavam. Dez anos antes, a proporção era de 19,6%. A maior parte deles têm entre 15 e 17 anos. Nesta faixa etária, o percentual dos que trabalham é bem mais alto: 31,8%, embora inferior aos 47% registrados em 1992. Além disso, Todos os serviços de utilidade pública ampliaram a sua cobertura na última década, mas nenhum deles se expandiu no ritmo da telefonia. Entre 1992 e 2002, o percentual de casas brasileiras com telefone fixo ou móvel mais do que triplicou: saltou de 19% para 61,6%. Em números absolutos, são 29,3 milhões de residências. Em 2001, a parcela de casas servidas por telefonia era de 58,9%. De um ano para outro, portanto, houve crescimento de 7% na cobertura do serviço. O IBGE constatou também uma expansão significativa do universo de domicílios atendidos unicamente pela telefonia celular. De 2001 para 2002, o total de moradias enquadradas nessa categoria aumentou 15,4%. Embora se expanda a um ritmo mais modesto, a energia elétrica continua sendo o serviço com maior cobertura no país. Entre 2001 e 2002, caiu de 4% para 3,3% o total de moradias que não tinham acesso à energia elétrica. Dez anos antes, em 1992, os domicílios sem iluminação equivaliam a 11,2% do total. A Pnad também mostra avanços importantes nos serviços de coleta de lixo e de saneamento básico. O número de casas com serviço de coleta de lixo aumentou 4,2% ante 2001, reduzindo de 16,8% para 15,2% a parcela da população não atendida por esse serviço. As condições de saneamento básico continuam precárias, mas não tanto quanto antes. De 1992 a 2002, caiu de 26,4% para 18% o total de moradias que não eram atendidas por rede de geral de abastecimento de água.

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