Brasil quer soberania sobre ararinhas-azuis

O governo brasileiro dissolveu o comitê de recuperação da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), passando suas atribuições temporariamente para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e propondo uma reformulação, que lhe garanta a soberania sobre todas as aves da espécie, hoje existentes em cativeiro, incluindo as do exterior.

O Itamaraty solicitou a colaboração das autoridades Cites da Suíça e das Filipinas, como forma de pressionar os grandes criadores particulares dos dois países a cederem a propriedade de seus animais. Autoridades Cites são representantes oficiais de cada país signatário da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção. Eles não podem tirar a propriedade das aves dos criadores, mas podem dificultar as transações comerciais oficiais e o transporte internacional.

O objetivo destas medidas é garantir o gerenciamento adequado e integrado de toda a população de cativeiro das ararinhas-azuis, na tentativa de aumentar o número de aves e orientar a reprodução para se obter o máximo de diversidade genética. Hoje, existem, no mundo, apenas 60 ararinhas-azuis vivas, todas em cativeiro. A espécie, considerada extinta na natureza, é originária da caatinga de Curaçá, no sertão da Bahia  e foi intensamente perseguida para atender a um mercado internacional de colecionadores, interessados na beleza de sua plumagem azul clara. O último espécime selvagem de que se tinha notícia desapareceu em outubro de 2000.

O Brasil só tem a propriedade de 8 ararinhas-azuis: 3 num criadouro de Recife, 2 no Zôo de São Paulo e 3 cedidas pelo criador Wolfgang Kiessling, da Espanha. O criador Hollan Messer, da Suiça tem 18 aves e Antonio de Dios, das Filipinas tem 24. As outras são de colecionadores esparsos. A participação dos dois grandes criadores internacionais – da Suíça e Filipinas – no comitê de recuperação da espécie é fundamental para garantir um mínimo de viabilidade a um programa de reprodução orientada.

Segundo informa Yara Barros, do Ibama, os criadores continuariam de posse das aves, como já acontece com Kiessling, na Espanha, mas o governo brasileiro teria a propriedade e orientaria a formação de casais e troca de matrizes. ?Sem o posicionamento dele s e sem informações claras sobre as aves não é possível trabalhar?, diz Yara.

Desde 1990, quando foi criado, o comitê de recuperação das ararinhas-azuis tenta estabelecer um programa integrado. Mas os dois grandes criadores nunca aderiram e a dissolução do comitê pretende forçar a reformulação dessa postura, através da mobilização de ambientalistas e opinião pública.

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