Bispo dá sermão em Lula sobre desemprego e salário

São Paulo – Na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o bispo de Santo André, Nelson Westrup, criticou o desemprego no País e o que chamou de “falta de um salário justo”, em sermão na missa do Dia do Trabalho, na Igreja Matriz de São Bernardo do Campo (ABC paulista).

“Como trabalhar para comer se não tem emprego?”, disse o bispo. “O desemprego é sempre um mal, e quando atinge determinadas dimensões vira calamidade social.” Na semana em que o governo anunciou o polêmico reajuste do salário mínimo – de R$ 240 para R$ 260 -, Lula também ouviu do arcebispo palavras sobre a reivindicação de um “salário justo”. “No dia em que o problema do emprego e do salário justo for solucionado, poderemos falar em uma sociedade alicerçada na justiça”, disse o religioso.

O desemprego atingiu 12,8% da população economicamente ativa das seis maiores regiões metropolitanas do Brasil em março, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A maior taxa já registrada pelo instituto desde o início da pesquisa, em 2001, foi de 13% -em junho e agosto do ano passado.

A missa do Dia do Trabalho é realizada desde 1980 na Igreja Matriz de São Bernardo do Campo. Ela nasceu como um protesto à prisão de Lula e dirigentes sindicais devido às greves no ABC. Há 24 anos, os trabalhadores da região encontraram na Igreja Católica um refúgio contra o regime militar. No 1.º de maio de 1980, milhares de metalúrgicos se espremeram dentro da Igreja Matriz de São Bernardo do Campo para fugir do Exército que procurava líderes sindicais que organizavam greves na região. Nos últimos 24 anos, Lula sempre compareceu à missa.

Quando chegou a sua vez de falar, Lula disse que sentia saudades do tempo em que era sindicalista, quando havia oferta de vagas na porta das fábricas. “Acho que os sindicalistas aqui presentes têm saudade do tempo que a gente andava na porta das empresas e tinha placas ?procura-se?, porque hoje não há mais. Hoje desapareceram essas placas.” O presidente disse também ser incapaz de acabar com o desemprego no País. “O desemprego passou a ser um dos grandes problemas, e este é o desafio que está colocado para que resolvamos no nosso mandato, ou que, pelo menos, comecemos a resolvê-lo de forma definitiva. Nunca acabaremos com 100% dos desempregados do Brasil”, disse Lula. Sobre o novo salário mínimo, Lula não fez nenhum comentário.

Na campanha de 2002, Lula prometeu criar 10 milhões de novos postos de trabalho. Terminou o primeiro ano de mandato com o índice recorde de desemprego e retração de 0,2% do PIB.

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) divulgou um documento chamado de “Mensagem para o Dia do Trabalhador”, que foi lido durante a missa. “Os credores podem esperar, mas os desempregados, não”, diz o documento.

Ex-aliados são críticos mais ferozes

São Paulo

– O ex-governador e presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, disse ontem na festa da Força Sindical, realizada na praça de Campo de Bagatelle com a presença de aproximadamente 500 mil pessoas, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria renunciar ao mandato. “Se Lula tiver dó do povo, ele renuncia. Ninguém deve evitar o grito pela renúncia se Lula não mudar o rumo do seu governo”, pregou Leonel Brizola para a multidão reunida no evento da Força Sindical e que contou ainda com a presença do secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho.

Ao saber da declaração de Brizola, o presidente nacional do PT, José Genoino, rebateu as críticas: “Em primeiro lugar, é bravata misturada com uma visão catastrófica em relação ao País, em relação ao governo Lula. A oposição tem o papel de criticar, não pregar essa catástrofe que não vai se confirmar”.

O ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, também foi agressivo. Ele disse que Lula não concedeu um reajuste maior para o salário mínimo porque não quis, já que o governo iria pagar R$ 182 bilhões de juros aos banqueiros. Em São Paulo, Garotinho pediu desculpas pelo “erro” de dizer aos seus eleitores que votassem em Lula no segundo turno. Segundo ele, Lula não segue as promessas de campanha. “O PT aderiu doutrinariamente ao neoliberalismo e está fazendo pelo capital financeiro mais que o FHC”, afirmou.

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