Bimotor cai, dois morrem e dois sobrevivem

A queda de um avião bimotor, prefixo PT-WRT, deixou dois mortos na manhã de ontem, em uma região de mata fechada na Serra da Cantareira, em Perus, zona oeste de São Paulo. Os outros dois ocupantes do Sêneca, o empresário Antônio Celso Cortez, de 50 anos, e Mateus Fimbler de Almeida, de 10 anos, sobreviveram e até o começo da noite estavam internados, fora de risco, segundo os médicos. O Departamento de Aviação Civil (DAC) investiga as causas do acidente.

O avião tinha decolado de Campo Grande (MS) às 5h30, com destino ao Aeroporto Campo de Marte, na zona norte da capital paulista. Por volta das 8h30, a torre de controle do Aeroporto de Congonhas perdeu contato com o piloto. ?Ouvi uma grande explosão, mas não deu para saber o que era e de onde vinha. Ventava e chovia muito?, comentou Naldo Dias Cardoso, de 47 anos vigilante que trabalha em uma torre de comunicação da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a poucos metros do local onde o avião caiu.

Sobreviventes

Os sobreviventes andaram na mata por cerca de duas horas em busca de ajuda. Às 11h, Nadson Victor de Lima Barros, de 13 anos, morador do bairro, ouviu os gritos de socorro. Ele chamou o padrasto, Anderson Alves, de 35 anos, e os dois se embrenharam no mato até encontrar as vítimas. O menino Mateus tinha apenas um pequeno corte na mão. Cortez estava muito machucado. Tinha as mãos e o joelho direito queimados e não conseguia andar, pois havia torcido o tornozelo. Ligaram para o Corpo de Bombeiros e ficaram dentro de casa esperando socorro.

Por causa das árvores altas e da densa neblina que cobria a mata, o helicóptero Águia da Polícia Militar não conseguia localizar os feridos. Logo em seguida começaram a aparecer carros de resgate. No Hospital Geral de Taipas o garoto passou por exames. O empresário Cortez foi levado para a Santa Casa de Misericórdia, na região central de São Paulo.

Os corpos do piloto e de Valter Lino Rezende de Oliveira de 41 anos, estavam carbonizados quando a equipe de resgate chegou ao local, às 14h. No local do acidente havia documentos e pertences dos passageiros espalhados por um raio de 10 metros. Uma das asas do bimotor ficou presa no tronco de uma árvore. Às 15h, técnicos da Aeronáutica isolaram a área e começaram a perícia.

O empresário Cortez tinha pego carona no bimotor de última hora. Ele conhecia o piloto, Rodinei de Almeida, e desistiu de viajar para São Paulo pela empresa aérea TAM, como sempre fazia.

Menino andou horas atrás de socorro

Mateus tinha um só pensamento desde que saiu da mata fechada: alguém tinha de socorrer o pai. O menino de 10 anos deu o recado ao casal que o achou e chamou a polícia. Repetiu o pedido a policiais e médicos: ?Vá lá e socorre meu pai, que ele tá preso no avião e o avião está pegando fogo.? Os bombeiros foram atrás dos destroços enquanto o menino seguia de helicóptero para o hospital.

Naquele momento, todos já sabiam que Rodinei Ferreira, pai do menino e piloto do Sêneca acidentado, havia morrido no desastre. Seu corpo carbonizado foi achado pelo bombeiros em meio ao que sobrara do bimotor, que se incendiou. O local ficava a 1 quilômetro de distância da casa do vendedor Anderson Alves, de 35 anos. Foi ele quem encontrou Mateus e o empresário Antonio Celso Cortez, o outro sobrevivente no meio da mata. Ele havia acabado de voltar para casa com a mulher, Elizabete, que estava indisposta. Os gritos de Mateus chegaram até a casa.

Alves e seus afilhado, Nadson Lima Barros, de 13 anos, foram ver do que se tratava -pensaram que alguém havia caído num poço. Primeiro encontraram o menino e um pouco depois, o homem. ?O seu Antônio estava esfolado, com o olho roxo e o menino, muito assustado. Eles nasceram de novo.? Enquanto isso, o menino repetia ao afilhado de Alves: ?Fala pro moço que meu pai tá lá no avião.? Mateus foi levado à casa de Alves, onde aguardou o resgate da PM.

A tarde já havia acabado, mas ninguém havia tomado coragem para contar ao menino o que acontecera com o pai. Quando fazia primeira refeição após o acidente, Mateus fez um pedido à doutora Nilma: ?Liga para o celular do meu pai.? Nilma desconversou. ?Disse que já havia conversado com sua mãe.

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